Tudo Vazio
Está um dia bonito. Devíamos assar um peixe e almoçar no jardim.
Na Mongolia centenas de ovelhas caminham num círculo quase perfeito, sem interrupção há duas semanas e ninguém sabe porquê. Cada vez que entro num supermercado parece-me tudo vazio. As temperaturas descem na Ucrânia na mesma proporção do nosso desinteresse. Há uns dias soube de uma menina de dois que deu entrada no IPO e o Tomás já consegui os 350 mil euros para ir para Israel. Um saco de compras básicas já não custa menos de 40€. Jantar fora está fora de questão.
E nem tudo o que cai a rede é peixe às vezes é atum aprisionado.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU autorizou finalmente a investigação sobre a repressão no irão. Não é possível perdoar a morte de uma miúda de 22 anos.
Pouco interessa quem se esteja a Qatar e quem vai ao Qatar, parece tudo da mesma estranha geografia. Um peixe sabia-me bem, mas cada vez de se paga mais cara a digestão. Portugal ganha ao Uruguai e na Alemanha as velas esgotam nos supermercados com a possibilidade de um apagão. Se calhar devíamos todos it abastecer de feijão. Há 40 mil casos de covid num país de 1,4 biliões. É difícil manter o discernimento e a lucidez. Um quadradinho com um meme, um quadradinho com merda. Navegamos entre meteoritos e mulas disfarçadas de unicórnio. Não sabemos se devemos ficar felizes pelos que ganham, se solidários com os que perdem. Não precisamos de um 1984 quando estamos imersos em 2022. Ainda é possível acreditar que vai ficar tudo bem? Ou nunca foi tão gloriosa a portuguesa missiva do “vai-se andando”. Afinal de contas, correr para quem e para onde? Só se for num relvado com uma bandeira colorida com todas as causas do mundo.
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