Os Nossos

Tinha que escolher uma fotografia destas para falar sobre um tema onde, acabamos quase todos acampados, cheios de boas intenções e muito pouca preparação: os meus e os teus.

Este encaixe que parece ser subtil no início, à força da paixão que se sente e que cedo se torna um puzzle de emoções, egos, carências e afectos. Uma missão tão titânica às vezes, que dás por ti a suspirar pelo caos imenso que tinhas, antes de toda esta transpiração.

Já passei por isto uma vez e portei-me mal, não tinha qualquer vontade de acolher os filhos do outro, a família alargada, o colo curto, o pêssego aos quadradinhos, os horários de sono, as espinhas do peixe, as alergias, os telefonemas da mãe, os terrores nocturnos e eu, sempre em bicos de pés a sonhar com o “sai de fininho”.

Sei que há quem cozinhe esta caldeirada, que lhe chame uma benção, mas por norma desconfio. É das portas mais difíceis de atravessar. E não tem mal, não somos menos bons por sermos maus às vezes.

É muito samba para quem foi ludibriado com um ideal de família.

É que a somar ao novo acampamento, já tens na bagagem os teus próprios predadores genéticos, cheios de nuances de merda, que nos ostentamos como singularidades de carácter para efeito de manutenção do amor, mas que na verdade, são feitios difíceis e muitas das vezes, falhas tremendas de educação. Mas são nossos, por isso tudo bem, que o caracol se passar a vida a dizer mal da carapaça, vai lhe pesar o dobro na viagem…

O que é que eu aconselho. Com muito diálogo e carinho, que se imponham limites às interferências externas para que o campo magnético flua, onde por norma já encrava. Que se requisitem tempos para os nossos, onde eles possam ser só nossos filhos e nós só os seus mães e pais. Que se lhes exija o justo contributo no equilíbrio de tudo, sem a consideração permanente que foram vítimas de circunstâncias alheias, porque a vida é sempre alheia a essas circunstâncias e a isso, chama-se crescer.
E que não se faça das novas famílias modelos de democracia tutelar em que todos são iguais, quando são todos absolutamente diferentes.
E quando tiverem a ferver, façam as malas e peçam pausa no filme. Há sempre uma segunda parte.

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