Sugam-te

Não guardes o melhor para o fim.
Aprendi isso com um pacote de sugus quando era criança e emborcava à pressa os de ananás para ficar com o de limão escondidos na mão suada. Depois, sorvia devagarinho no fim, entre o céu da boca e as amígdalas, tocando os dentes com a subtilizes de um pianista, até ser atirado como uma bola de flippers directo à minha jugular.
Mas era justamente quando me preparava para tirar a mão com o sugu aquecido, que aparecia alguém necessitado, a requisitar um sugu num gesto de generosidade, de olhos muito abertos ao dilema moral. E eu, com a boca cheia de sabores secundários, acabava cedendo.
Abria a mão trancada e entregava o trunfo de limão, com os cantos da boca a espumar ananás.
Esta fraca parábola de vida ensinou-me umas quantas coisas.
Desde então, não espero que a ocasião faça o ladrão eu faço a ocasião.
Se me dá a sede e tenho, abro um bom vinho, se me dá fome e posso, vou às entranhas da arca e descongelo aquela picanha Argentina num dia francamente banal.
Já não fico à espera da efeméride, já não encho a boca de ananases, à espera do último sopro de limão.
Não é falta de generosidade para com os outros, é amor para comigo.
Hoje façam isso sff, peguem naquela coisa especial que estava guardada para uma ocasião com o mesmo semblante e metam os sugus todos na boca!
Não guardem o melhor para o fim.