Tu não eras assim
É uma “não frase” numa relação. Um ataque ao porta aviões. Quem somos nós verdadeiramente? Que não sejamos capazes de enormes redundâncias e fabulosos actos de magia?!
Lembra-me logo a fabulosa conversa do Allain Botton “On Romanticism” (vejam por favor). E que sublinha que somos todos herdeiros dos ideias românticos do século XVIII. E cita uma frase deliciosamente cínica de François de La Rochefoucauld, um moralista francês:
“Há pessoas que nunca se teriam apaixonado se não tivessem ouvido falar da noção de amor”
E pede-nos que sejamos tolerantes com os nossos parceiros como somos com as nossas crianças, antevendo dores, febres e desconforto, sem colocar em causa o solene esteio e seguro lugar de uma relação.
Porque nós, nunca somos inteiros numa metade de tempo e circunstância, porque o estado de espírito é um fantasma que a maioria de nós, nem sabe tratar por tu. Porque a Assumpção de que somos só o lado solarengo, que na eminência de uma queda abrupta, arrasta consigo a relação, é uma dolorosa epifania, incapaz de ser sustentável para um coração.
Eu sou assim. Ou talvez não seja só isso, mas também isso. Não me defino apenas pelas minhas digníssimas qualidades, sou parasitária de uma imensidão de defeitos.
Uma relação não é uma arena, e a ser, que seja a do circo, onde se permite a mulher de barbas, o homem bala e o palhaço deprimido, porque eu reclamo o direito de ser tudo isso, sem que nada disso me defina.
Que ideia patética essa, de achar que o romantismo despejou a tolerância, que em nós não habitam infindáveis nuvens de escuridão. Que podemos rebentar num choro ranhoso e depois decidir viver só de alegria até à próxima tempestade.
Até morrer estamos em constante crescimento e mutação. Esta vida é curta para acabamentos.
Eu quero carinho e aceitação. Para perceber os outros nos seus múltiplos layers, preciso que assumam a minha inconstância como um desafio orgânico da minha busca interior.
Podemos levar uma vida toda à procura do amor, mas só saberemos que o encontramos, quando sentirmos nele o espaço para andarmos perdidos.