Ao nível do inesquecível
Apraz-me partilhar com vocês a importância de contornar o tédio e a rotina.
Disse há muitos anos, na arrogância da minha juventude, no cenário de uma relação desfeita, de dedo em riste, para um tipo com cara de parvo, que na altura me fez parva de paixão:
“Eu opero ao nível do inesquecível”.
Seguido de um rodar de ancas, legitimado 15 anos mais tarde, quando fui morar para o bairro de Alfama, à procura dos resquícios de natureza bruta numa vida burguesa que se sentia a definhar.
Demorei algum tempo até ressuscitar as tábuas desse mandamento.
Mas agora percebo que há coisas que nos saem muito cedo da boca, até que sejam processadas, entendidas é legitimadas pelas interioridades de uma alma madura.
Somos estrangeiros dentro de nós.
Quando chegamos ao nosso destino, se nos assaltar a honra e a sorte, perceberemos que nada faz mais sentido à vida e às relações que operar “ao nível do inesquecível”
E se assim for, sendo, somos, fazendo por, a vida torna-se um círculo de generosidade absoluta assente num pressuposto de mal entendido “egoísmo”.
Operar ao nível do inesquecível!
Que não haja pedreiras com escala para a magnitude dos nossos epitáfios.
Mas que se viva ao nível do que não se esquece, na fímbria do inesquecível, não tanto para ser lembrado em morte, mas para ser sentido em Vida!