Piratas somos todos
Nunca tive curiosidade em acompanhar cenas mediáticas que exploram a flora intestinal da vida alheia, mas este julgamento é quase incontornável, é como a publicidade que aparece antes dos filmes, está sempre lá.
Já podia descrever de cor os traços de um e outro para efeitos forenses.
Eu sou só mais uma fã do Johny Depp, actor, infelizmente, a vida nunca me deu a hipótese de o conhecer pessoalmente. Não sei quem seja.
Para mim, ele é bem mais do que o pirata das Caraíbas, é o Eduardo mãos de tesoura, o chapeleiro maluco, o Willie Wonka, a figura mítica dos filmes de um dos meus realizadores de estima, o Tim Burton.
E devia ter ficado aí, no imaginário da fantasia, a viver com a fada dos dentes, a mãe do Bambi, o pai natal e os gambuzinos.
Detesto este circo, à volta da intimidade de duas pessoas.
Espectadores confortáveis de bancada, voyeuristas Light, à espera de mais um capítulo de sangue.
Eu preferia quando ele podava arbustos e arregalava os olhos em transfigurações humanas que tocavam os extremos do espanto e da comoção.
Poupavam-nos a este apodrecimento de um casal, um julgamento primário que atravessa questões centrais da toxicidade da nossa sociedade, mas que redunda sempre em mais milhão, menos milhão.
Este filme é uma tristeza, uma vergonha alheia que não nos inibe de rir, ocasionalmente, desejando que termine rápido. Ele não merecia, ela também não e nós vivíamos bem a sua loucura na tela, sem a funesta confirmação que ser humano também é uma forma gigante de miséria.
Volta para a tela Johny.