Dona Custódia
Sou pela custódia partilhada. Esta bolsa de tempo foi crucial para empoleirar a mulher sobre a mãe.
Sem este tempo para respirar, e sem recursos familiares de apoio, ainda estaria na apneia criativa dos sonhos, adiados e amaciados, nas noites de copo meio cheio na marquise da cozinha.
É meio bipolar a navegação, entre a semana da “anarquia” e a semana da responsabilidade. Bipolar, não apenas na oscilação entre o sóbrio e o ébrio, o despertador ou a procrastinação, a escola ou o ginásio, o arrumar ou o “que se lixe”, a lata de atum ou a sopa de courgette. Tem um ganho tão pronunciado no meu desenvolvimento profissional e pessoal que jamais questionarei outro método de gestão que não este.
Mas é tramado do ponto de vista emocional, lá para meio da tua semana de diversão, bate-te a saudade. Bate mais quanto mais pequenos são.
Esta sentimento, disfarçado de culpa que eu sinto, e que muitas de nós sentimos, tem a ver com uma imposição social histórica que inscreveu a mulher na permanência do seio familiar.
Oscilação a mais é sentida como uma libertinagem. Muita liberdade é falta de vocação para o ofício.😅
Como se a tua inaptidão para o papel tivesse uma proporção directa, com o nível de prazer percepcionado na ausência dos filhos.
Eu chamo a isso propriedade sobre a liberdade, culpa não é ausência de presença é ausência de vínculo.
O que sinto agora são apenas saudades, mesmo sabendo que amanhã regressam, e que vai demorar apenas umas horas até suspirar novamente pela propriedade de mim.