Os impostores

São os novos serial killers da era das plataformas de streaming.
Para desenjoar dos 7 pecados, das paredes com organigramas de post its, das sub caves e dos gritos em vão. Já não é tendência, ser-se muito sofisticado a matar gente. Já não há grande compaixão por uma mente brilhante com sede de sangue e déficit de colo.
Agora queremos é a narrativa dos ladroes das emoções, os cabrões que se fazem bonzinhos, e as sonsas que se fazem íntimas.
Os que nos roubam primeiro o coração e depois a carteira, sempre a carteira. E as tontas e os tontos carentes, que com vergonha, excomungam cada um de nós. Tive que ver em fast forward x1,5, como quem lê as frases sinónimas de um livro de auto ajuda.
Detestamos o que vemos, admiramos o engenho com que conseguiram, ambicionamos o foco, empatizamos com a vitima, detestamos as suas carências, temos pena e depois pó. São o pináculo da perseverança do vazio. Os últimos dos moicanos da inteligência artificial ao serviço do vazio humano.
Não conseguimos deixar de ver, é tão sedutor como criminoso, adivinhamos o fim mas fingimos surpresa.
E quando acaba? Corre tudo bem. Há um distribuição sistémica da culpa, para levar a mesa de corte da psicologia, um vilão desamparado com escassez de colo e um cem número de vítimas, sempre culpadas pela sua alienação. Porque tudo o que verdadeiramente importa não está lá, estando lá tudo.
Que estes impostores, mais sentenciados, em séries e filmes do que em justiça, se safem, não me espanta. Que enriqueçam e escrevam livros, que se redimam na sentença incondicional do seu talento, que vendam vídeos e encabecem programas. Tudo isso faz parte, da arte que reclamamos ao nosso vazio. Fomos tantas vezes assaltados por impostores menos encartados, que há uma espécie de vingança colectiva que se executa por cada impostor aclamado. E temos todos falta de colo e de justiça.
Its a match!