O que é que eu vou ser… quando crescer?

Eu sabia, que de todos os períodos de crescimento, este seria o que mais me ia doer. Não eram os terríveis dois, os terríveis 3, as cólicas ou as dores de ter dentes para trincar o que é bom. Na mãe que sou, o que rebenta comigo são as mesmas dores que carrego, desde que percebi que vir e ir ao mundo, mesmo sem querer, tinha a porra de um sentido de propósito que nos expande e rebenta connosco.
Quando a minha filha de 16 me diz que está farta de ir para a escola, que sente que apenas existe. Ocupa um lugar indiferenciado numa existência indiferenciada, que os professores também existem, não insistem, numa abstração completa entre uma plateia de alienados sôfregos e cansados, e uma carreira drenada de sentido e reconhecimento, sinto uma culpa tão grande. Mas tão grande, que chego a sentir dores de criação, quando eu também vim para aqui, sem saber exactamente o que de mim esperavam.
Este confronto entre o “podes ser tudo” e a certeza racional que não tens tudo, para ser o tudo que o mundo reclama, é uma apneia.
Lembro-me perfeitamente, porque ainda sinto a dormência permanente das questões existenciais, nunca as consegui responder em mim. Agora aproveito-me desse hiato, nesse vazio, faço o composto da minha inquietude, é lá que habitam as minhas larvas filosóficas, mando tudo o que não sei para lá e um monte de certezas que nunca me serviram. Depois, fico na mesma dúvida, para onde é que despejo este amontado fértil? Que sonhos é que ainda valem a pena viver? Que pessoa sou? O que é que ainda posso ser?
Olha filhota, hoje, até tive vontade de chorar as tuas dores. Ofereço-te o consolo que há dúvidas que se eternizam connosco e que no meu composto cabe o teu. Não te preocupes tanto com o futuro, é aí que o presente tropeça, não é aí que começa.
Trabalha as tuas virtudes com garra, fermenta um coração bom e eu tenho a certeza que a vida te dará as respostas em múltiplos formatos.
Até lá, fala, conversa, escolha com quem conversas e faz como a tua mãe, aproveita todas as oportunidades que a vida te dá para ser feliz. O futuro não se cansa de esperar.