O Clã das Mulheres Sofridas

Tenho alguma consciência histórica que me faz ser agradecida a um conjunto incrível de mulheres. Graças a elas, nasci com muito mais liberdade para ser voluntariamente “in”feliz.
Agora oiço lives e podcasts dirigidos por mulheres e mães, que aterraram de helicóptero no topo da pirâmide de Maslow.
E isto, não é para lhes dar na cabeça é para lhes dar na consciência, porque isso ajuda a saciar a importância que damos aos problemas só para nos sentirmos importantes.
Agora toda a mulher bem falante é uma psicóloga, bastando para isso que reivindique à história pessoal uma cesariana atroz.
E atenção, que eu dou as mais elevadas credenciais ao poder do sofrimento, o escultor mais competente das pessoas infinitas.
Também não acho que se arrumam argumentos com canudos e medalhas. Prefiro escutar o que falam sobre a vida. E gosto de ouvir as pessoas, que vá se lá saber porquê, podem não ter tido a sorte de viver histórias felizes mas fizeram-se felizes nas suas histórias.
Esta empatia pelo negrume, este “comigo também”, que baseia a sua força e expressão na reivindicação do sofrimento, acho para além de imensamente triste para todas as mulheres quem vem a seguir, insultuoso, para as que nos precederam na verdadeira sangria da procura de um lugar. Não se faz um baile só porque se encontra um par.
Sempre me fascinaram as mulheres. Acho o feminino íntegro uma forma absoluta de poder.
Mas, mesmo com honrosas e fabulosas excepções, ainda gosto mais de ouvir podcasts dirigidos por homens, porque a celulite das dores tem uma abordagem de superação que rasga e não afunda, que não põe à margem das histórias as pessoas felizes, que sabe gargalhar sem o concílio da irmandade das dores, e eu preciso dessa ligeireza.
Essa feminilidade tóxica que ninguém fala é para mim, uma das maiores crises colectivas de ansiedade. É preciso tudo, mas tb é preciso sair do divã, levar ao mulherio a mecânica e dar umas pancadas de amizade nas costas para arrumar as constelações.
Profundidade não é apenas a qualidade do que é fundo, toda a gente nasce com a capacidade bestial de escavar um buraco, mas quase ninguém nos ensina a escalar uma montanha.