E agora, Isabel?

São tantas as coisas que te passam pela cabeça que o mínimo a fazer seria alugares um armazém para os pensamentos avulso.

Engane-se quem acha, que os devemos partilhar, como piadas soltas à espera da oportunidade do riso.

Há coisas que são tão violentas de se pensar, que arrastam consigo a expressão comprometedora de quem as ousou albergar.

O sorriso maléfico dos sisos interiores e a vergonha da virgem que se fez inquilina em época de devoção.

O que é que se faz a estes vãos de escada que sobem e descem as paredes do cérebro?

Leva-se a passear. Foge-se com a cabeça para longe dos que vigiam a nossa actividade cerebral.
Agarras em ti e numa mochila, pões pouca coisa lá dentro e fazes-te a um trilho, um caminho extenso, íngreme e estreito.

Uma espécie de parapeito sem espaço para te sentares. Se quiseres companhia, junta-te a emoções estrangeiras e caminha na imensidão da torre de Babel.

Quanto menos souberes traduzir mais te obrigas a intuir. As pernas fazem pelo cérebro, o que o corpo faz pela alma.

E é isso mesmo que vou fazer numa “walking mentorship” de 14 a 21 de outubro pela costa vicentina, num parapeito perfeito que se estende pelo mar. Aproveito e atropelo os meus anos a 17 e despejo com carinho nas ravinas e nas conversas, todas estas ideias que ainda não têm estrutura para ocupar lugar, mas que me pesam no silêncio de não as saber partilhar.

Peço já desculpa aos estrangeiros que me acompanharão no percurso pela extensão antecipada do meu vomitado.

É apenas o resultado de uma pergunta que já faz trilho em mim “E agora, Isabel?”

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