E agora?

Já não bastavam as crises existenciais, a fazerem pelos adultos o que acne faz pela adolescência.
Já não era suficiente os ganhos de consciência que metade da nossa vida talvez tenha sido desenhada no estirador de outro alguém e que pouco nos pertence até do que nós somos.
Já não bastava a maturidade lúcida da percepção que em vez de tantos filhos e sacramentos talvez devêssemos ter visitado mais mundo, feito mais amor e revisitado mais livros.
Já não chegava o orgulho da reciclagem tardia e as rotinas dos duches frios, aprendidos ao acaso no acaso disto aqui.
Já não nos chegava o filtro, da torneira, o carro eléctrico, as luzes solares e o odor da compostagem.
Já não nos bastava o franchising do sonho bucólico e as galinhas no pasto fumadas às escondidas no escuro da marquise.
Já não chegava, trocar o novo pelo reciclado, aplicando a mesma vocação a cada desastre amoroso.
Já não chega o dia verde, a corrida azul e o cabaz bio? O shampoo tipo sabão e o sabão tipo nada. E o nada gigantesco de onde se vislumbra o ozono?
E agora? Como é cidadãos 7 999 999 999? Até a porra da nossa singularidade almejada nos pesa!

Lutámos tanto pela esperança de vida que esquecemos da vida com esperança. E agora dizem que somos muitos. Que somos a mais, que estamos em demasia, que ocupamos mal e ocupamos espaço. E nós que sempre pensamos que se compravam mesas redondas para encaixar mais alguém.

Eu cá quanto a vocês não sei. Mas temos que parar com esta mania de vaticinar o fim desde o começo.

Fazemos muita merda, não valemos um caralho, só as nossas mães é que gostam mesmo de nós (e só alguns) mas chegámos aos 8 000 000 000 de habitantes depois de 4,54 mil milhões de anos a passar as passas de muitos algarves, alguma coisa temos que estar a fazer bem?

Nem que seja a capacidade de inovação sobre tudo o que está mal.