“Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma.”
“Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma.”
dizia Pessoa.
Já Saramago não perdoava a leviandade contemporânea com que se atiram palavras para o ar, vazias de significado. E como as apanhamos no chão como pardais dispostos a engolir pedaços de terra calcada só para mastigar um bocado de emoção.
Mas eu hoje não quero escrever sobre palavras, quero escrever só com palavras. Elas andam por aqui, habitam atrás da minha língua, alojadas no meu cérebro, confiscadas ao meu coração.
Tenho escrito muito para dentro do meu livro. Ando alinhada com o dilúvio. Também tenho inundado as folhas brancas de aguaceiros de palavras.
Entre projectos, a digestão lenta da Eutanásia. Para uma fanática da vida, não há tema mais pertinente que a nossa ingerência da morte.
É com este tema que inaugurarei em Fevereiro o “Clube das pessoas que acreditam em tudo”. A abordagem à vida pela vida está viciada, gasta, inundada de clichés e carpe diems.
Estou cada vez mais convencida, que para lhe agarramos o pulso, nos temos que debruçar sobre o final.
A doença, a demência e todas as intermitências da morte são temas em aberto para quem não se fecha à vida.
Fugir do que nos espera é viver em desencontro. Temer o inevitável não o evita.
Camuflar o tema em glorificações não o espanta.
E diabolizá-lo não nos diviniza.
O fim não é a falência de todas as hipóteses.
Que possamos ser sábios o suficiente, em vida, para não matarmos a morte antes de nós.