É fácil falar mal
Escrevo estes textos de sorriso trocista, enquanto pauso para um cigarro no cantinho do fumeiro.
Diga o que diga, do que bate a diferença entre o que acho que sou e o que sou aqui, estou-me a divertir muito.
Tenho o corpo todo dorido da pista de dança, do solo sagrado, do músculo perro.
Aqui há terapêuticas várias, mas todas elas redundam num pseudo ballet contemporâneo, primitivo e magistral.
Faz falta à humanidade que de dance.
Constato que até tenho arcaboiço para fazer os quatro dias, estou-me a aguentar de joelhos vacilantes, de café aguado e sono curto. Quando sinto, escondo a minha subjectividade atrás da objectiva.
Hesito várias vezes entre o “quer que se lixe” mas vou a todas.
De fora parece um detox center lá dentro confirma-se a perfeição de um manicómio.
Para mim, que apregoou a liberdade de um poema e a exaltação dos loucos, devia estar a “dançar” em casa. Mas este embrulho chamado corpo, esta limitação da matéria, não é peça que se dispa rápido.
Dançar como se ninguém te estivesse a ver, no meio de cem pessoas é o mesmo que cantar de costas sem a segurança de um bom rabo. Temos fraca vocação para o deixa andar. A dança é uma óptima desculpa para levar o diabo às extremidades do corpo e soltá-lo num amasso.
E quanto à tribo, ao excesso de poeira e de castanhos, caga nisso e põe serradura. Vamos acabar todos em composto.