Carta de Amor à Humanidade

No dia 3 de Fevereiro recebi um e-mail, muito fora, da @sofiaisabelvieira, muito fora também🙏🏼❤️.

A contar-me que tinha criado o Clube das cartas de amor, e a pedir-me para escrever uma carta de amor à humanidade, em troca de um saint emilion bem temperado. “Estou-me nos tintos”, toda a minha adega pelo Amor e escrevi a carta nesse mesmo instante. Depois reli e pensei que talvez não tenha escrito uma carta de amor ou talvez tenha sido a carta mais honesta que escrevi. E o Amor não deixa de fora esse cuidado de nos fazer gente melhor.
Hoje, mais pertinente que nunca, partilho com vocês. A carta que voltaria a escrever.

“Querida humanidade,
Já te quis escrever muitas vezes ao longo desta vida.
Tive vergonha. Somos muitos, mas somos de um egoísmo atroz.
Só te sentimos naquela que é a nossa janela temporal e espacial, subterrados nas nossas dores ou levitando nas nossas alegrias.
Já te quis maldizer, a ausência de oportunidades, a ferrugem dos sonhos e os caminhos enganadores.
Já te achei de um lustro milagroso, para logo a seguir, te ver como um acaso cientifico que tentamos embelezar para efeitos de amor colectivo e preservação. Já desejei que nos tornássemos trans-humanos e agora, tenho tanto medo disso.
Já esperei que o espaço fosse um manto alagado de estrelas e esperanças, e que viessem do lá de fora, seres capazes de nos iluminar o caminho.
Já esperei que Deus fosse o mais humano dos homens enquanto observava os homens a virarem Deuses.

Sinto que à medida que avançamos no tempo, nos vamos afastando da pureza do conceito do que é ser humano. Pedimos-te várias vezes que quebres a amnésia, que soltes os grilhões que nos prendem à materialidade de tudo.
Natureza humana. Chamam-nos.
Seres humano. Dizem de nós.
Onde andas tu Humanidade? (…)”