Que Sorte

Talvez tenha sorte, mas a sorte não é só sorte.
É a capacidade de nos sabermos entregar à circunstância.

Muitas vezes não consigo, porque a minha humanidade não transcende todas as vezes que preciso.
Às vezes, Emburro na brutalidade de alguns batimentos e faço deles uma playlist.

Entrego-me ao loop do desvario e encravo na pobreza de um refrão, só porque ele faz sentir, muito para além do sentido.

Aí, não há sorte que me valha, porque a sorte não perdoa o desprezo pela oportunidade.
A engenharia da sorte é feita do presente e da Presença.

Uma fábrica de verbos que não funciona em função da produção do Amanhã.
Abre todos os dias falência, produz todos os dias magia.

De nada interessa o jardim soberbo senão tiveres na disposição de snifar as árvores, nem os canteiros bonitos se não despejares metade da tua visão na contemplação da sua beleza.

Sorte é um epíteto vazio, senão lhe deres a oportunidade do agora. Sorte não é a inveja aos olhos dos outros é a alegria que te preenche a aceitação.

Sorte não é um encontrão na circunstância perfeita é a aceitação que viver é sempre uma tentativa.

Talvez tenha sorte. Deus queira que sim. Que a sorte me incline para a vocação de saber agarrar todas as minhas circunstâncias, sem ceder ao fatalismo de pensar que no algures imprevisível, pode haver algo melhor.

A sorte é destruída todos os dias pelo homem, na soberba de não sabermos amar, sem a vocação de estar sempre a receber.

Hoje tive a sorte de me ter, aqui neste jardim, de ter sentido o sol, do cheiro do verde molhado, um livro na minha mão, um almoço sem pressa, o silêncio da floresta tranquila e um beijo demorado.

Mas a sorte nunca é só sorte.

Às vezes é apenas um acordo de cavaleiros que decidem posar as espadas da batalha e olhar o céu.

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