QUINTA ALMA

“Sorte por ter tido a resposta, à coragem de termos pegado nas miúdas e saído da cidade, com vidas supostamente mais confortáveis e empregos bem remunerados, para vir reaprender, cavar, errar, construir, desenhar, arriscar”

Nem eu sabia que ia sair de Aljezur, com dois amigos, que é só o lucro mais tangível desta vida. O meu propósito era fazer um artigo completo sobre Glamping em Portugal, artigo esse que cresce na proporção dos amigos que vou acolhendo. Mas nós que andamos a palmilhar trilho e lugares sabemos, que mais do que sítios, quando o lugar é feito da matéria do sonho de quem o construiu, chegamos ao que lhe é essencial, as pessoas.

Perto de Aljezur, a caminho da Serra de Monchique, perdidos num gps de serradio, lá encontrámos a Alma da coisa. A Quinta Alma. Que erradamente chamei, e que continuo a hesitar no chamar, Quinta D´Alma. Só porque a preposição “de” acentua a quem lhe pertence as gramas que enchem tudo.

Nós sabemos que os Glampings estão na moda, que o novo sofisticado é pernoitar o mais colado possível à natureza. E que a própria estrutura não fere a paisagem. Mas o glamping é acima de tudo uma forma de compromisso sem intromissão. Encarar a natureza de frente e oferecer-lhe a nossa permanência.

Podia dissertar, sobre os dias que aqui passámos, podia afirmar que acordar com a luz dentro da tenda não é para todas as escuridões e que o ruído da bicharada, não se disfarça de um sonho qualquer. Mas também podia dizer que os cheiros te enchem, que o espaço romantiza, que fazer amor numa tenda é libertar pirilampos na noite e que a forma como tudo se organiza em torno de uma mesa, faz de ti uma extensão da madeira.

Não quero ser tendenciosa, por tender para a rapidez com que nos amigámos. Por isso enviei-lhes um conjunto de questões que atestam que os lugares são as pessoas, sobretudo quando

Algumas perguntas, que adorava que respondessem sem filtros, igual às unhas dos pés num dia de muita lavoura.

  • Quem são a Joana e o Mário?
  • Sentem-se a realizar um sonho?
  • Quando é que vos bateu a urgência da vida?
  • O que é a Quinta D´Alma?
  • O que é que as pessoas “ganham”/“descobrem” no vosso lugar?
  • É assim tão importante fazer diferente?
  • O que é para vocês um cumulo de felicidade?
  • Onde é que a espiritualidade entra no negócio, se é que entra?
  • Vêem-se a eternizar-se aí?
  • Um conselho que vocês possam dar a quem hesita.

Quem são a Joana e o Mário?

A Joana e o Mário são realizadores de sonhos e ideias. Ambos com espírito muito empreendedor ao longo da sua vida dedicaram-se a diferentes projectos tentando trazer sempre mais valor para um mundo melhor, sustentável e mais justo e harmonioso com o todo. Mesmo quando passaram por empresas grandes. 

Guardaram a visão do que seria a Quinta Alma, como um tesouro-semente. E assim que se juntaram, tudo começou a crescer e a florir.

O Mário é muito dedicado a todas as arquitecturas que possam erguer a Quinta Alma, desde o seu esqueleto físico, à sua comunicação. A sua grande paixão, a sustentabilidade, é alimentada nos jardins comestíveis e na floresta. Alimenta a paixão,  e com isso alimenta-nos a nós todos.

A Joana, nutre a sua paixão, que são as pessoas, a sua evolução, e o seu bem-estar. Por vezes é difícil ter fé na humanidade, por isso acredita que quanto mais as pessoas se recordam que fazem parte da Natureza, mais em paz se sentirão.

Fiel ao chamado da Mãe-Terra, caminha na vida como se fosse uma grande viagem. O sorriso de cada pessoa é guardado como uma relíquia na sua bagagem.

Sentem-se a realizar um sonho?

 

Um sonho não sabemos, por vezes parece que mais a única realidade possível para ser plenos… Mas muitas vezes sentimo-nos abençoados. Pela sorte em termos encontrado este cantinho que tão bem nos tem recebido e dado eco ao nosso “cry for nature”. Sorte por ter tido a resposta à coragem de termos pegado nas miúdas e saído da cidade, com vidas supostamente mais confortáveis e empregos bem remunerados, para vir reaprender, cavar, errar, construir, desenhar, arriscar. Esta coragem foi motivada por coisas que encontrámos nesta mudança de vida e que hoje, mais do que nunca, reconhecemos como fundamentais para a nossa caminhada como indivíduos, em família e na comunidade: ar puro, tranquilidade, bio-ritmo, auto-suficiência e partilha.

Quando é que vos bateu a urgência da vida?

A urgência da vida veio da consciência de quando nos tornamos pais e com os filhos. E temos que responder à pergunta: “quais são os valores e o exemplo que lhes queres dar?”

Isso fez-nos reflectir profundamente sobre o estilo de vida que levámos connosco durante quase metade da nossa vida.

Sentimos que a resposta estava numa vida mais próxima da Natureza, mais próxima de uma comunidade de não-anónimos, num estilo de vida mais simples e mais humilde. Mais em comunhão com os elementos da natureza, inspirados na sua capacidade criativa e criadora.

Parece que fazemos parte do movimento migratório ao contrário. Aquele que sai das cidades para o campo contrariando as razões que levaram as pessoas a migrarem para as cidades. No campo controlamos menos as variáveis, estamos mais à mercê dos elementos da Natureza. Por isso também levamos volta e meia um banho de humildade e de entrega. E isso faz bem.

Mas tudo isto faz bem e é possível, numa reinvenção da vida no campo, pois estamos conectados ao mundo pela internet e perto dos banhos de cultura esporádicos através da proximidade que as vias de comunicação modernas permitem.

O que é a Quinta D´Alma?

Quinta Alma! :)) Não é D’Alma

Esta nuance faz diferença. Não é uma Quinta onde a Alma pertence ou uma Quinta que pertence à Alma mas uma Quinta que eleva a Alma. 

A Quinta Alma é para nós um espaço de inspiração (pela Natureza). Eleva-nos a Alma à Quinta Dimensão. Não terá tanto a ver com o Quinto Império da Lingua Portuguesa mas talvez mais com o Império da Natureza.

A Quinta desempenha um duplo papel e sentido mas muita gente diz isto… Quinta D’Alma. Por isso, se calhar tenho que falar com o Brand Manager…

O que é que as pessoas “ganham”/“descobrem” no vosso lugar?

Sopas e descanso. Sopas de comida saudável e servida com amor e carinho. Sopas também de natureza, de inspiração.

Descanso de poder parar num lugar que nos expõe de forma confortável com os elementos da natureza.

Quando se pára e de descansa no meio da Natureza, num registo confortável e simples, não precisamos de grandes gurus nem de grandes yogas. A meditação vem por si pŕopria e o retiro faz-se. Por isso muitas vezes convidamos as pessoas a virem “retreat yourself”.

É assim tão importante fazer diferente?

Fazer diferente é importante se for relevante e acrescentar algo de bom. Ou impedir algo de mau.

O que fazemos tentamos que seja respeitoso do meio ambiente, que acrescente melhor humanidade aos humanos que nos visitam e que nos inspire a todos a ser mais auto-suficientes e conectados com a comunidade. 

Isto não deveria ser a diferença, mas a norma.

O que é para vocês um cumulo de felicidade?

É entender qual é a nossa função na Natureza e na Sociedade e depois desempenhá-la bem com amor, paixão e responsabilidade. Julgo que essa é a base para viver e morrer feliz. Realizados de que a nossa existência neste plano, acrescentou algo de positivo à Humanidade e à Natureza.

Há vários cúmulos, ou cumes uma vez que vivemos uma serra inteira de bênçãos.

Dois dos favoritos são: as coisas funcionarem bem, as plantas acrescerem, a água a funcionar, a energia… Parece básico mas uma vez que tudo é feito por nós com a ajuda dos elementos, dá muito trabalho, e deve ser celebrado.

O outro cume nesta serra de felicidade, é ver o estado em que a maioria das pessoas sai desta nossa terra. A brilhar. Sem tensão. Inspiradas. Confirmando que o nosso esforço é o certo. E quando há casos mais difíceis de pessoas que nunca tiveram assim, embrenhadas e abraçadas pela natureza, e sentem-se por vezes até com medo, focando-se no desconforto… E após dormirem, a magia acontece e saiem tantas vezes tão agradecidas e surpreendidas. Integradas, com a promessa de voltar em breve, e querendo trazer mais família e amigos…. Ahhh… Isso sim é um Himalaia de felicidade!

 

 

Onde é que a espiritualidade entra no negócio, se é que entra?

Bom… A palavra espiritualidade é um bocado ingrata, pois nunca se sabe como é entendida por quem ouve ou lê.

O espírito para mim é como o sussurro do coração. É a energia sempre ligada à fonte. Que tanto está, bem dentro de nós, como em nosso redor. É o Eu maior e que se liga a todas as coisas e outros Eus.

Quando estamos ligados à Fonte, e ao Coração, não há nada que se possa fazer sem o nosso espírito estar presente.

Quando o nosso trabalho tem a ver com o nosso propósito maior, todo o universo conspira a nosso favor e vai mantendo um diálogo de afinamento pelo caminho. 

A sustentabilidade passa também pela boa saúde do negócio. Temos de escutar, estar atentos, afinar, e por vezes também fazer algum esforço extra em modo sacrifício, mas atenção: rapidamente dá fruto e sinal que está certo. Essa saúde do negócio / projecto é como uma bússola a comprovar o bom caminho. Isso e a leveza no coração.

Não sei se a espiritualidade é a melhor expressão mas a elevação do espírito entra na nossa visão. E o negócio alimenta a capacidade económica necessária para manifestar a nossa visão.

A elevação do espírito tem a ver com esta vontade de fazer o bem, de nos questionarmos constantemente se o que idealizamos e queremos manifestar ajuda a uma melhor humanidade, em comunhão, respeito e amor pela Natureza e por todos os seres.

Vêem-se a eternizar-se aí?

Sim. Até morrer. As raízes estão a crescer. E a Alma a ampliar.

Um conselho que vocês possam dar a quem hesita.

Quem hesita tem razões para tal. O conselho é parar e entender essas razões e perceber se a hesitação faz sentido.

Depois de entendermos as razões, já não há motivo para se hesitar mas sim para se decidir pela melhor escolha individual.

Agora, o que sabemos é que muitas vezes não é fácil parar para entender as razões da inquietação e da hesitação. Se calhar ir para a Natureza passar uns dias, desligar e reconectar é um bom processo para passar da hesitação à decisão.

Estamos cá também para ajudar a tirar dúvidas e a esclarecer questões.