As pessoas ofendidas

Dizia o António Barreto num podcast, que é preciso ter cuidado com as raízes, porque não há pena mais pesada para o homem, do que não sair do mesmo sítio.
O filósofo Eduardo Lourenço sublinha na sua voz terna, que somos hospedeiros de um instante, não vale de nada abraçar a ofensa, vale ainda menos viver ofendido.
As árvores não se apoquentam com estes azeites. Deve haver com cada conversa tonta no albergue das suas sombras, sem que isso acuse o vacilo de um ramo.
Devíamos ser todos assim, mais coesos e impenetráveis como esta Magnôlia branca.
Já nas redes, é só buracos. Crateras profundas e gargantas irritadas. Mais mebocaina por favor! Lambam mel!
Sigo alguns grupos de WhatsApp, agregações anónimas, criadas em torno de um ideário colectivo e vejo muito humano a dar de debandada. Desejando “sorte” na perfídia mais absurda da sua ironia, incapaz de sair de pente fino, sempre eloquente e moralista na despedida, como se fosse o adeus eterno para uma cruzada maior.
Não há saco.
Ou havendo que fossem todos lá para dentro, gatanhar-se.
Pouco ensina o ofendido a quem já ofendeu. Tudo o resto é energia circular tóxica e improdutiva.
Esta espécie de árvore é das mais antigas do planeta, 95 milhões de anos!, dá umas flores enormes e perfumadas, mas como é de crescimento lento, não é muito cultivada.
O imediato ainda nos há de foder. Não é uma das maiores formas de generosidade, plantar árvores sabendo que não viveremos na sombra de as ver crescer. Não anda para aí um meme, não é frase bonita do After Life?
Não é essa a melhor forma de luz, a mais bonita forma de raiz e a relatividade da dor? Por cada ofendido uma Magnôlia branca! Peço alvíssaras ao criador