MONTENEGRO & ALBÂNIA

“(…) quando achas que já  viste o pináculo mais bem desenhado da natureza, eis que os teus olhos contemplam isto.”

 

Conhecia  pouco da região dos Balcãs. Há muito que  andava a namorar Montenegro, um pequeno país do tamanho do Alentejo com, não mais de 500 mil habitantes e uma costa  de sonho. Mas não é daqueles sonhos rápidos são daqueles que se demoram, com clima mediterrâneo, montanhas de um verde puro, lagos encantados e cidades medievais . Como tudo começa? Na simplicidade do  verbo mais eficiente que há, o “IR”.

Na famosa região dos Balcãs, conhecida pela sua imensa riqueza histórica, recheada de alguns dos mais sangrentos conflitos da nossa história.  Basta lembrar que foi um herdeiro do trono austro-húngaro que levou à desculpa perfeita para a Austria-Hungria invadir a Sérvia, levando ao estouro da Primeira Guerra Mundial.

Eslovénia, Croácia,  Sérvia, Albânia, Montenegro, Kosovo e Macedonia, todos eles merecedores de uma visita.

A minha desculpa para invadir a Albânia começou em Montenegro que é um pais incrivelmente sedutor e que faz fronteira  com 5: Croácia, Albânia, Bósnia, Kosovo e Sérvia.

De Podgorica, capital de Montenegro era fácil alugar um carro e atravessar qualquer uma destas fronteiras sem necessidade de um visto. A única coisa a fazer, para não voltar para trás era combinar a entrega do carro num país diferente, o que é possível, pagando, como é óbvio. O aluguer de um carro é 400€ a semana, que já inclui o plus que pagas para fazer trans fronteira, depois disso é abastecer e andar. A gasolina é mais barata que a nossa e há tantas bombas como na A1.

Atenção, Montenegro ainda não faz parte da UE (fará até 2025) mas faz parte da união monetária europeia, o que significa que se pode utilizar euros em todo o lado. Já a Albânia, igualmente candidata empobrecida, ainda está em lista de espera no cumprimento dos requisitos e, por isso, tem de se trocar dinheiro por LEK´s (moeda local) e 1 Euro vale à data de hoje 122,02 leks. Já vais perceber a quantidade de costeletas de cabrito que consegues comer com 10 Euros…

 

Mas antes de vos abrir o apetite, vamos lá abrir o mapa da aventura para visualizarem o percurso que fiz:

 

 

De Lisboa a Podgorica com passagem por Budapeste, são 4h, e estás na porra do Paraíso. Desculpem-me a franqueza da linguagem mas é porra mesmo, dêem-lhe um sotaque brasileiro e vira a maior “grácinha”, assim como eu virei uma mulher nova quando pus os meus pés em solo montenegrino.

 

Podgorica é a capital, recebi avisos vários acerca da sua insípida beleza e contornei. Directa a Durmitor o maior parque nacional de Montenegro, classificado pela UNESCO como património mundial. E que bem classificado.

Eu sou amante das serras e montanhas, e quando achas que já  viste o pináculo mais bem desenhado da natureza, eis que os teus olhos contemplam isto. São 2h30 de viagem por uma estrada que já deixa antever a beleza do que se vai encontrar. (Pode ser mais tempo se se parar, como fiz, para visitar o mais famoso mosteiro ortodoxo sérvio – Manastir Ostrog – construído no século  XVII sobre uma rocha gigante).

 

 

| DURMITOR |

 

” Aqui respiras, agradeces, pensas na vida, (…), porque este tipo de paisagem emana tranquilidade de espírito. “

 

Durmitor  é dormitar duas noites, ou mais, se procuras o abraço consolador do manto verde e os desportos de natureza.

A comida é mais grelhada mista com grelhada mista, mas sempre com bons legumes e  vá lá, uma ou outra truta de rio estorricada, que sabe pelos dias que vais ficar sem ver escamas.

Vários abrigos de montanha, com aspecto de albergue da Heidi, para todos os tipos de bolsas e peregrinos.

Depois, é marcar um rafting (obrigatório) no desfiladeiro do rio Tara. E não vais querer que te belisquem quando deres por ti a remar em águas, cor de olhos azuis de gente perigosa:), rodeada de um verde fluorescente, sem teres tomado pequeno almoço alucinógeno. Rafting com almoço incluido passeio na ponte e regressas para dormir, não sem antes, entrares no parque nacional. Não leves o carro para perto porque pagas parque a 3€ junto à entrada.

Depois, caminhas a pé, e chegas a outro cenário desenhado a pastel por alguém que eu não teria hesitações em chamar Deus.

E aqui respiras, agradeces, pensas na vida, mas não deixes que nada te chateie, porque este tipo de paisagem emana tranquilidade de espírito. Respiras outra vez e libertas. Quando acabares a meditação, sentas-te no restaurante com vista para o Lago, pedes uma garrafa de chardonnay e um carne de porco estufada no forno e voltas a agradecer.

Montenegro também é conhecido pela sua produção de vinho e pelas suas vinhas, mas não fiz desvio para visitar nenhuma. Eu sei…também não acredito. Mas foi a mais pura das verdades e nada que me tenha impedido de beber e brindar em cada pedacinho onde me sentei a agradecer.

 

Tenho 11 dias, os países não se vêem aos pulinhos e para conheceres a cultura e gozares tens que estabelecer um mínimo de duas a três noites em pontos nevrálgicos.

Dois no arranque para amaciar a alma e o corpo, dois ou três pelo meio para pura procrastinação e dois no final  para digestão lenta do que andaste a ver e a curtir, e para seguir viagem  sem ires directa ao osteopata.

 

| SKADAR LAKE |

A caminho de Kotor vês um desvio e eu não aguento uma placa com contornos de lago e montanha. Vira para Skadar e a viagem pontua mais uma vez.  Chegas a um povoado delicioso, por uma estrada que faz lembrar a nossa Arrábida, estacionas, dás te de beber e alugas um barco por 25€.

Levas a cerveja gelada na mão e fazes um dos mais belos passeios que já fiz.  Começas a interrogar-te se pode haver melhor e só estás em Montenegro há 3 dias.

De barriga cheia, depois de um por do sol generoso, pegas no carro e rumas a Kotor. Uma hora e meia, nada, que não tenhamos já passado na ponte 25 de Abril.

 

| KOTOR |

 

 

Cheguei à baía de Kotor ao Hotel HUMA Kotor Bay, aquele que teve  no Booking o epíteto burguês do “quer q se F* eu mereço!”. São só 250€ noite porque para ser em grande não ficas com vista para o jardim, queres ver o Mar.

Era noite e por isso eu ainda não sabia ao certo o valor do meu investimento, por isso pedi um copo de branco a 14€ e adivinhei que ao amanhecer, a vista seria bombástica.

 

Não me enganei, ou não me enganaram,  ou enganaram-me mesmo bem, porque era só deslumbrante. Fiquei a perceber aquelas velhinhas que vemos de roupão à varanda dos hotéis durante horas a fio. Mas eu queria dar um mergulho no mar e remexer a areia penteada da praia privativa.

Desci com o kit todo, levaram-me a escolher uma espreguiçadeira e entreguei-me sem qualquer hesitação ao colo mais elevado da burguesia.

 

 

Pedi menu, pedi balde de gelo e bebida, pedi guarda sol aberto e depois pedi que o fechassem ligeiramente. Perguntei pelos preços dos barcos e das casas, como se fosse uma espécie de investidora estrangeira a tentar ser turista.

Foram dias incríveis, com episódios de luxúria merecida. E aqui  falarei por fotos, dizendo apenas, que é absolutamente obrigatório passar mais de 3 dias em Kotor e durante esses dias, é imperativo:

  • Alugar um barco ao dia/ passeio organizado:  Visitam-se as ilhas, os mosteiros, as vila medievais nas encostas do rio, os abrigos dos submarinos da II GM e a gruta azul. Almoça-se nos restaurantes das margens e caminha-se pelas vilas piscatórias. (Há muita oferta e marcar com antecedência se forem em época alta, porque está sempre cheio e vocês não vão querer ir no barco pirata).

 

  • Visitar a Cidade medieval de Kotor: Conhecida pela sua quantidade enorme de gatos. Eu não sou fã dos felinos mas adoro tudo o que é calhau medieval e esta cidade é de cortar a respiração. Começa por ser rodeada por um forte incrível e cercada por um rio. Entra-se por arcos medievais e perde-se a sonhar estar sentado em todos  aqueles restaurantes charmosos, de luzes amarelas e música baixinha. Se possível, deve-se subir até à torre (tudo isso antes de beber…)

 

  • Prometeres que voltas e regressar com a pessoa que já te fez mais feliz.

 

De Kotor fui directa para Budva, outra cidade medieval em cima do  extenso mar azul.  Dizem que Budva é a riviera de Montenegro, mas sinceramente, e depois de muito ter pesquisado sobre ambas, ficou tão transparente para mim, como a água do mar, que o sítio para ficar era Kotor.

Para além da qualidade dos alojamentos, a tranquilidade absoluta. Budva é bonito, uma pequena cidade medieval, metade de Kotor, cheia de restaurantes e bares, mas parece a marina de Vilamoura.

Bem mais ruidosa que Kotor, com um décimo da beleza paisagística e cheia de turistas com sacos de plástico a caminho dos seus airbnb, nada a minha praia, zero a minha onda.

Almocei bem e segui para a Albânia, mas não sem antes passar na afamada ilha de Sveti Stefan.

 

 

| SVETI STEFAN |

 

 

1000€ a noite nesta pequena ilha fortificada. Fazem como eu pagam 2€ /hora de parque e vão ao calhau dar um mergulho no Adriático morno e param na curva em 4 piscas para apanhar a panorâmica. No upper east side a praia é privativa e batida, que os ricos, muito ricos, de pedra quente e grande só as massagens.

Foi durante o domínio comunista Jugoslavo que os últimos habitantes da ilha foram postos em terra, e os grandes marxistas converteram a pequena ilhota num resort de luxo para as grandes elites do mundo. Estava tudo direito à esquerda.

Quem é que não gosta de ter uma ilha só para si, para receber os amigos em condições e fazer churrascadas sem medo que o fumo vá para o vizinho?

Naquela ilhota existem 50 quartos, 8 suites e 4 villas, para estar tudo muito à vontade. Que se há coisa que põe um rico a suar é a toalha do povo encostada à sua. E vai daí eu também, que já vi que tenho tudo o que é preciso para abraçar a causa…

No entretanto e nestas derivadas de água morna, vou procrastinando a minha chegada à Albânia.

Só mais uma informação: dá para fazer praia na baía de pedra, mas não dá para te aproximares muito da ponte, que aquilo é tipo Fortnite e és abatido a tiro por um grandalhão fardado. Mas com o requinte com que se fazem as coisas aqui, deves ser varrido para a Albânia em 2 segundos.

Era noite quando atravessei a fronteira de Montenegro para a Albânia, num processo muito semelhante ao que fazíamos antes quando atravessávamos de Portugal para Espanha. Apresentar passaporte e seguir. Tudo muito ágil e civilizado.

Deixas para trás um país lindo, com uma história já muito arrumada e entras naquele que é considerado um dos países mais pobres da Europa. Massacrado por um regime comunista brutal, às mãos de um homem louco, de seu nome Enver Hoxha.

Diz-se que a Albânia tem a melhor combinação entre os Alpes Suiços e as praias gregas. Também é o maior produtor de marijuana da Europa, mas só me apercebi disso quando estava em Tirana na última noite e não deu nem para fumar uma ervinha.

 

 

E aqui fica um pequeno enquadramento histórico, para saberem onde é que se estão a meter. Avanço desde já, que todas as hesitações burguesas que tive, quando me banhava na baia de Kotor, desvaneceram na Albânia. Um país incrível, onde traria as minhas filhas sem pestanejar.

“Durante a Primeira Guerra Mundial, a Albânia foi dividida pelas Grandes Potências Europeias (França, Inglaterra, Alemanha, Rússia, Austro-Hungria, Itália), deixando uma grande parte do território fora das suas fronteiras devido a intrigas e complots políticos dos países vizinhos, particularmente da ex-Jugoslávia. A Albânia é assim vítima dos conflitos que se vêm fazendo sentir na História dos Balcãs Ocidentais.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a Albânia foi invadida pela Itália e Alemanha, tendo conseguido a sua liberdade em novembro de 1944. Depois deste ano, instala-se na Albânia o regime comunista, tendo o seu ditador Enver Hoxha, em 1967, declarado o Estado Ateu, “a primeira nação Ateísta do mundo” que se manteve até 1991. As religiões eram identificadas como importações estrangeiras para a cultura albanesa e foram totalmente proibidas. O regime destruiu qualquer templo religioso até lá construído e tirou ao povo albanês a liberdade de expressão e circulação.

Uma “nova era” na História da Albânia começa no ano de 1991, quando as dificuldades económicas impostas pelo isolamento e a manifestação de centenas de milhares de estudantes obrigaram Ramiz Alia, sucessor de Hoxha, a reabrir o país ao mundo, estabelecendo um sistema democrático multipartidário.

Apesar das profundas transformações, a Albânia continua a viver graves problemas de credibilidade política e de desenvolvimento sustentável. O país, com uma democracia jovem, evidencia grande dificuldade em se manter viável e esforça-se para atingir os critérios necessários para se juntar à União Europeia.” in DN, Roberto Carneiro “Um olhar sobre a Albânia”

Mas, ainda antes de entrar na desconhecida Albânia, e graças às dicas fabulosas das minhas seguidoras expatriadas, interessadas e viajadas, recebi a sugestão de fazer um desvio até Ada Bojana. Que nome incrível! Ada Bojana é uma ilha no município de Ulcinj em Montenegro. O nome Ada significa ilha fluvial em Montenegrino. A ilha é criada por um delta fluvial do rio Bojana. Ainda cheia de sal no corpo dos mergulhos dados na orla da plebe de Sveti Stefan, fiz um percurso de 1 hora e meia numa estrada completamente inusitada,  ora parecia que entravas num arrabalde russo ou que estavas nos pântanos da Florida a caminho de uma praia tropical.

  • Ada Bojana

“Obrigada à seguidora que me recomendou vir a Ada Bojana. É preciso pagar 7€ para entrar com o carro e é uma colônia nudista, que tem um sinal à entrada que diz que é obrigatório entrar nu!Fiz o areal a correr tipo coelhinho aos saltos e pedi uma garrafa de branco para ver se tenho coragem de fazer o areal de pelota no caminho de volta. Isto de facto é qualquer coisa, seja isso o que for. À sua.”

“Este Adriático, filho da mãe, vale cada desvio. Ainda é época baixa e é raro haver uma esplanada cheia, ou uma praia à pinha. E esta, que era do colonato dos nus então, era um sossego. A primeira praia de areia que apanhei aqui. Se não fosse o inconveniente de me estar a sentir mal por estar vestida, diria que era perfeita. Talvez tenha sido uma menina, mas aqueles Vladimires todos nus não davam grande confiança. Virei a garrafa e a cabeça, curti até o sol se pôr e fui jantar ao afluente ainda cheia de areia preta. Estou tão feliz. É uma frase simples mas tão adequada ao que sinto. Foram 3 horas até chegar à Albânia (passar a fronteira é manteiga de amendoim) com a roupa molhada e a areia a fazer comichão, nada que um bom pé preto não sacuda. Amanhã tomo banho, hoje vou me atirar para os lençóis medievais do hotel monumental e esperar que a paisagem corresponda ao acordar. Não faço a mínima ideia onde estacionei os meus sonhos, está escuro que nem breu, mas sinto-me a levitar. ”

Mas Ada Bojana não é apenas uma praia de homens nus. Queriam! À saída da praia, bem em cima do rio, há um alinhamento de casas e restaurantes que merecem uma paragem. Para além da comida deliciosa e dos preços muito acessíveis, das esplanadas palafitas vês o rio desaguar no mar e o pôr do sol em cima de ti. Pede qualquer coisa para beber e celebra outra vez. Porque este sítio é tão singular como a vida que escolhes viver.  E não te preocupes se a noite cai sobre os caminhos que o Gps tem luz e não há melhor sensação do que a de nos acharmos perdidos. Foi um dos dias mais fantásticos desta viagem.

E segurança, perguntam os cépticos e os cautelosos? Super seguro. Nunca em toda a viagem senti qualquer espécie de animosidade ou perigo, mesmo para quem viaja sozinho.

Era noite quando entrei no carro, GPS on e toca de atravessar fronteira e carimbar país. Directa para Kruje, o primeiro highlight Albanês. Mais uma vez aproveitei a noite para viajar (muito aconselhável, as estradas fazem-se bem) e de manhã acordas sem saberes onde estás.  És uma criança com um ovo kinder na mão quando de te desembaraças dos cortinados para espreitar a paisagem pela primeira vez.

  • Kruje

“Há muito para dizer sobre a Albânia. Um país que teve isolado mais de 40 anos, que rompeu relações com a Urss, China e até com o pacto de Varsóvia. Tem mais de 100 mil bunkers espalhados pelo território, herança da guerra fria. Não vais demorar muito até encontrar um para ilustrar numa fotografia. Só tem um aeroporto, o de Tirana. Come-se cordeiro como se não houvesse amanhã, conduzem como se estivessem num jogo de flippers, são amistosos, tarados e sorridentes. 1 € vale 122 leks (moeda nacional) e com 100€ aqui és rico. Apostam forte na música folclórica e no Wi-Fi. Agora vou até ali ao museu etnográfico, são os museus imperdíveis para quem quer conhecer o país como um Albânes. Com a Itália do outro lado do Adriático é fácil imaginar a quantidade de restaurantes italianos. Falam pouco inglês mas safam com a cortesia dos sorrisos rasgados. Turista é rei. Não se fazem puto ideia de onde fica Portugal. Praticam o desapego geográfico.”

Como quase todos os  lugares que sofreram influência do Império Otomano, Krujë tem um pequeno bazar muito bem conservado, ainda com ruas calçadas com pedras antigas, desgastadas. É obrigatório ir ao Museu etnográfico e comer muitas entradas e pratos típicos, nas várias esplanadas que existem em cada jardim, de cada edifício medieval.  Preparem-se para descer a bitola das noites quando entram na Albânia. É tudo limpinho e esforçado, mas não há nem luxo, nem muita oferta.  Em Kruje fiquei no Hotel Panorama e aconselho um restaurante fabuloso no alto de Kruje, junto à torre, chamado Merlika.

“Estava eu com medo de não me divertir na Albânia 🇦🇱 Obrigada pela lição. Aqui a lusitana pessoa está encantada com a gentileza do vosso povo, esse sotaque meio queijo feta, meio mozzarella é uma delícia, presto justa vassalagem a um povo que tem sempre costeletas de borrego como prato do dia e uma calzone, não vá dar aperto. Os monumentos estão tão bem preservados como a vossa história, as vossas estradas são uma merda, mas não faz mal, preferimos um bom caminho de cabras a um engenheiro Sócrates. A periferia rural é um filme do Kusturika, há cabras em cima de telhados, homens de camisa interior e barba de metralha a jogarem às cartas, prédios estranhos e um caos ordeiro onde até apetece alinhar. Aqui vai uma dica, desta pessoa que passa metade da refeição a ler sobre a cultura do país: A melhor altura para visitar os Balcãs é Maio e Junho. A não ser que sejam parentes de Lúcifer, eu evitava estorricar com asma aos 45 graus. A época alta arranca em Julho, por isso a recepção ao turista nesta época é feita com ex libris de quem parece saído da escola de hotelaria. Encantada Albânia. Encantada.”

  • Berat

De Kruje seguimos para Berat. Não podia vir a Albânia sem visitar a vila das 1000 janelas. Património Mundial da UNESCO, Berat é uma cidade com 70 mil habitantes incrustada nas montanhas. Passear no centro histórico é um desafio aos gémeos e aos glutéos mas vale a perder meter-se pelas ruas apertadas e embrenhar-se no ambiente medieval. Embora não tenha ficado a dormir, por ter estadia reservada em Gjirokaster, não é possível contornar Berat.

Aqui há um restaurante absolutamente imperdível : HomeMade Food Lili que só tem 4 mesas, o dono e a mulher são quem serve e cozinha e não tem qualquer hipótese senão reservar com antecedência. E senão conseguir reservar não passe lá, porque vai ficar com ainda mais pena de não ter safado mesa. O resto é tripadvisor e ver as classificações, em geral, reafirmo na Albânia come-se muito bem. Fique até ver o pôr do sol, a madeira e as pedras das casas ficam um sonho quando a luz baixa.

  • Gjirokaster

Foi uma estica chegar aqui. 2h45 depois de ter subido todas as escadarias que existiam em Berat com 40 graus de sol. A cidade estava a ser repavimentada o que também não ajudou. Mas se atendermos que era uma situação circunstancial e que estou habituada a chegar na penumbra aos sítios onde vou dormir, está-se bem. Mas a estrada é um pedaço interminável de jogos sem fronteiras, não tens qualquer hipótese de adormecer ao volante.

Aqui fiquei duas noites, é uma cidade que tem tudo. É novamente património da Unesco e um dos exemplos mais bem preservados da boa herança do império otomano. O casco antigo estende-se por quilómetros e uma das melhores coisas a fazer é passear. Não faltam restaurantes e museus para visitar.

Absolutamente obrigatório ir visitar o Castelo, nunca vi nada assim. Nada tão imponente. Cheio de reentrâncias, muralhas, poços, janelas e um jardim imenso com uma torre relógio, um anfiteatro e um avião. Para somar ao encantamento do sítio ainda há um cem número de lendas, de fadas e príncipes.

Para dormir pode optar pelo Stone City hostel   ou em alternativa pesquisar um hotel, não faltam opções. De visita obrigatória a Casa Zekate, o Museu etnográfico, a casa do antigo ditador Enver Hoxha, que governou a Albânia do pós-guerra por 40 anos com mão de ferro, e o túnel que servia de albergue para os lideres comunistas durante a guerra fria. Isso para pessoas que são como eu, não têm claustrofobia e vibram com histórias de guerras e espiões.  Se querem saber mais sobre o país que construiu mais de 1000 bunkers durante a Guerra fria leia este artigo.

 

  • Syri I  kalter | Blue Eye

Antes de rumar à capital e enquanto estava sentada num dos maravilhosos restaurantes de Gjirokaster, chamado Odaja, quando  descobri um blog de um brasileiro mochileiro e percebi que a menos de 20 kms de onde estava, existia uma maravilha da natureza, o Olho azul. Só o nome empurra-te logo para beberes o copo de penalty e pedires a conta. Estava à pinha de turistas locais que procuravam como eu, fugir ao bafo dos 40 graus. Água de uma nascente cristalina a uma temperatura russa criava um misto de sentimentos, mas saltei lá para dentro e foi a melhor coisa que fiz naquele dia.

  • Tirana (capital)

Última noite em Tirana antes de regressar a Lisboa. Tive pena de não ter queimado aqui duas noites. Impressionou-me a história do país reflectida na cidade, da arquitectura aos museus, dos bunkers à conversa com as pessoas. Há pouco menos de dez anos foram descobertas valas comuns nas imediações da capital. Respeito. Muito respeito. E uma tremenda gratidão por habitarmos um país onde impera a paz e as gerações anteriores não carregam o peso da tortura e da dizimação. Uma noite cheia de “boa movida” e restaurantes cheios de design, comida auspiciosa, serventia e ambiente. Aqui, a destacar o Salt, Dine, sushi, club e o raios que o partam, que era bom demais e nem tirei fotografias, de tão entretida que estava a lamber os dedos.

Obrigatório ir ao BunkArt 1 ou 2 um museu dentro de um antigo bunker. Mas prepare-se porque se acabou de almoçar é bem possível que só lhe doa a alma, depois de despejar o estômago.

  • A fantástica Riviera Albanesa

Algumas das mais bonitas praias do país estão no sul na zona denominada por Riviera albanesa, uma faixa no litoral com cerca de 85 km, no sul do país, banhada pelo mar Jónico. Na vila de Ksamil estão algumas das mais belas praias, com um mar azul turquesa, todas de pequenas dimensões, sendo algumas de pedra e outras de areia. Mas não cheguei tão baixo, que é como quem diz, fiquei-me pela capital e daqui voei para Lisboa, sob pena de me zangar com o pai das minhas crias:) Mas para a próxima não me escapa.

A saber:

  • Não é necessário visto para entrar quer em Montenegro quer na Albânia. Leve o passaporte porque nenhum dos países é membro oficial da UE;
  • Montenegro aceita Euros e a Albânia também, mas é conveniente trocar moeda aqui;
  • Trate da reserva do carro online, recolha no aeroporto à chegada e entregue no ponto de partida para não perder dias de viagem a voltar para trás, negoceie isso de antemão para não ter surpresas.
  • A capital de Montenegro – Podgorica dispensa uma visita prolongada, mas Tirana capital da Albânia é absolutamente obrigatória para se compreender o país.
  • Ambos os países são muito seguros e o povo bastante amistoso;
  • A Albânia é um país muçulmano, não estranhe a ausência de mulheres nas ruas das cidades mais antigas;
  • Em Kotor / Montenegro os preços sobem na proporção do luxo. Mas em geral é bastante acessível mesmo para um português. Negoceie sempre, eles estão habituados e são flexíveis. Esqueça o vinho que é caro, fique-se pelo Gin;
  •  Na Albânia entregue-se aos prazeres da gastronomia, uma delicia para quem gosta de uma fusão entre o italiano e o grego com o típico borrego muçulmano. Provar Tavë Kosi um prato típico com carne de cordeiro, ovo e iogurte.
  • Em Montenegro ainda safam um inglês mas na Albânia não conte com isso. Instale uma app para facilitar a vida: Google translate ou i Translate voice.
  • Descarregue os mapas que precisa para poder navegar em off line, quer em Montenegro, quer na Albânia existe wifi em todos os sítios. Se quiser estar sempre contactável, compre um cartão de dados local. Mas eu aproveitava e desligava um bocadinho (coisa que pouco faço:)
  • Quando ir? Que é aquela pergunta da praxe. O tempo está todo avariado, mas se olharmos para as clássicas estações do ano, eu diria Junho e Setembro. As temperaturas em Julho e Agosto só para quem gosta de suar das virilhas.

E agora? Agora ponha-se a ver os preços dos voos e atire-se para uma viagem que não traz um “lek” de arrependimento. E não faça como eu também não fiz, não fique apenas pela contemplação da orla adriática. Deixe que o bronze que a praia promete vira platina nas histórias que ainda vai encontrar.