Quando eu for muito grande…

… quero ser igual às senhoras que vão à aula das 9h30 de hidroginástica no meu ginásio.
É por elas que escolho os cacifos junto à porta, onde se encostam a vestir devagar. Cada diálogo é uma parábola de vida, uma analogia, uma metáfora que levo comigo.
Demoro-me a colocar creme nas pernas, com a porta entreaberta do cacifo e olhar de soslaio, só para desfrutar da amizade voyeurista deste grupo desempoeirado. Estas senhoras discutem os últimos livros lidos, os netos adquiridos, os maridos idos e vindos. Como se o balneário fosse a esplanada sem pressas do café habitual. Separam-me uns 30 anos. Mas sinto-me melhor aqui neste canto, do que em qualquer outro lugar no balneário.
Há um tempo não calculado em cada um dos gestos, há uma certeza gramatical em cada uma das frases proferidas, há uma afirmação enaltecida sobre todos os medos, uma segurança que o barulho do secador não abafa e que o rodopio da jovem manhã não perturba.
Estas conversas avulso conciliam-me com a promessa de que há uma serenidade à minha espera, em cada degrau que subo. Neste cantinho nada se encolhe, nem as verdades, nem as barrigas. Neste cantinho junto à porta, as palavras não ficam à entrada da cortesia, emaranham-se, enaltecem-se, dão-se.
Neste canto há mais juízo são, que em todas as maquinarias das salas de cima. Quando eu for muito grande, quero ter a mesma simplicidade, na forma como falo do enterro da irmã e puxo os collants vidrados. De deixar escorrer uma lágrima enquanto penteio os cabelo prateados. Quero dar ao meu tempo a mesma unidade preciosa, com que se enaltecem as virtudes de uma hora de natação. E enquanto trilho caminho é neste canto que aprendo, que o que se encolhe de um lado, se expande sereno no outro.