Entrevista de Emprego

Ontem, numa conversa com amigos, falámos da última vez que fiz uma entrevista de emprego, daquelas à séria, conduzidas por uma profissional de RH e todos os subsequentes testes de “pirotecnia”.
Mas aquilo que mais me punha nervosa era a ambiciosa conversa. Quando te perguntavam, o que te vês a fazer daqui a 5 anos e tu eras obrigada a destilar todo um argumentário sobre o propósito da tua união com a companhia, assegurando que no teu ADN estava inscrito, há muito, o desígnio do teu contributo, a tua lealdade, a hipoteca dos teus sonhos e o teu futuro mais glorioso.
Eles tinham que babar na perspectiva que te edificavas como pessoa, enquanto colaboravas na construção do seu império.
Era justo, porque nessa altura, tudo parecia mais previsível. Tu davas-lhes o sangue e o suor e eles prometiam-te segurança.

Hoje ninguém pode prometer nada disso. Apresentam-se as competências do presente, ouve-se dizer que se valoriza os soft skills e os salários são quase todos uma merda, para todos os anos de seca que andaste a sonhar.
Não há garantias de nenhum dos lados da barricada.

Talvez um dia, possamos ser todos capazes de viver à pala das nossas paixões.

Mas hoje, quando me imagino a ter que mentir numa entrevista, a ideia repugna-me.

Não vamos estar juntos para sempre, nem sabemos o quanto isto vai durar, prometemos ser honestos no caminho, tudo o que eu preciso agora é de ganhar uma nota para alavancar futuro. Daqui até lá abrem-se e fecham-se muitas portas.

Contem-me como é que são os diálogos numa entrevista ao dia de hoje? Quando a imprevisibilidade atinge o até daqui a bocado.

Por último, um brinde aos provadores de sonho, não aos que aprovam, mas aos que têm a sorte de os beber todos os dias.

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