Daqui a 50 anos…

Eu não faço ideia, se vou conseguir chegar aos 90, se isto das redes sociais entretanto, não deu buraco, e se eu ainda venho aqui, de lupa dar poesia.

Será uma dádiva se me conseguir arrastar com qualidade intelectual e relativa destreza física.

E será péssimo sinal, se ainda vier aqui ao IG, ver como é que estamos de likes, quando o coração já conta pelas mãos as batidas.

Serei, se o karma for amigo, se Deus não for uma ilusão, se o mundo não se matar, e se eu tiver merecido, uma versão de Maria Isabel rugosa, serena e astuta.

Vou querer promontórios e serras, muito mar e paisagens infinitas, livros, montanhas de livros, petiscos e vinho, amor, muito amor, muito vinho, queijo, muito queijo, muito beijo e poemas por terminar.

E vou querer ressacar numa cama fofa, cheia de almofadas, com um bom candeeiro de mesa de luz suave e douradas.

E quando acordar, vai ser sempre uma surpresa e vou erguer os olhos devagarinho, com a adrenalina das vertigens de quem ainda procura acertar no chão.

E se a vida não for longa, que me leve, de quando em quando, para muito longe, e depois para muito perto de mim, como fazem as marés, que ajustam a limpeza da areia ao peso das nossas marcas.

E se for longa, arrisco pedir que não seja demente, porque a loucura é uma ciência que demora para a consciência aprender.

E já agora, que não esteja sozinha, que na cama caiba um par de pés para me abafar, e uma mão atrevida, que vai de quando em quando ao corpo e muitas vezes ao nariz para ver se ainda estou a respirar.

E talvez não precise de dentes, mas não abdico da gargalhada e que não me sangrem as gengivas quando me atirar ao borrego.

Se calhar já é muita coisa, mas no resumo é um poema:

Estrofes e livros por terminar,
amor e vinho para embalar,
digestão para o presunto
e muito beijo doce até virar defunto.

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