Ainda Temos Tempo
Comecei hoje a primeira de uma série de entrevistas sobre o Amor e o tempo, e o que o tempo faz ao amor e o Amor ao tempo.
Os meus entrevistados dizem que são de outro tempo, como se a vida lhes oferecesse um prolongamento, para ganharem o jogo.
São seres de afeição nascidos entre os anos 30 e 50, valem ouro pelas histórias que carregam e não seria de pirata bom, senão fizesse a minha parte, no saque e partilha desses trunfos.
Não é humanamente possível recriar permanentemente diferentes circunstâncias e absolutamente impossível dominar a passagem do tempo. A reinvenção, de que se fala como um antídoto para o fracasso das relações a longo prazo, não é o hiper genius do booking. A reinvenção está neste amontoado de células impertinentes, chamado ser humano.
Não é a rotina que mata a relação é a romaria desatinada, o pavor de não conseguir respirar parado e para os corações mais cultos, a cedência da liberdade em troca de um pouco de segurança e vice-versa.
Seres efémeros a fazer pactos para a eternidade é só de uma prepotência deliciosa, tão deliciosa como a troca do primeiro molar pela moeda de dois euros.
No amor ninguém nos fala de câmbios, mas matamo-nos a exigir uns aos outros, o que muitas das vezes, nunca tivemos competência ou vontade honesta de oferecer.
Numa discussão de casal perde-se a língua comum, o silêncio é opaco e tudo o que diz grita muito.
E depois é o amor proverbial, assente em líquidos melosos, em palavras curtas, em mãos que se procuram para se assegurar, segurando-se que se seguram.
Ainda temos tempo. Porque a eternidade tem a arquitectura de um segundo. Mas se não formos audazes, virtuosos e sérios, o que aprendemos sobre o amor, é tudo o que ele ainda não nos foi capaz de ensinar.
Ainda temos tempo.