Agora, não vale morrer.

Isto era eu no Irão em 2018, a fazer de odalisca da Pérsia com botas stradivarius.
Foi há três anos e eu estava tão feliz!
Tinha me acabado de apaixonar, a bem dizer, “andava me apaixonando”.
Acompanhem-me…
…naquela timidez intermitente dos primeiros telefonemas, e mesmo quando não era em FaceTime, eu penteava a voz e alisava os vincos com as mãos para engomar os nervos.
Neste momento em concreto, lembro-me de estar tão contente e grata, que se me dessem a hipótese, não mudava nem a pontuação.
Respirava devagar para não me engasgar num suspiro e guardava as palavras crescidas para a maturidade do amor.
O mundo era um recreio de guerras adiadas, e eu estava cheia de areia nos pés e sonhos na cabeça.
Percebia as desigualdades dos sítios por onde me estreava, mas levava a felicidade como um indulto.
Era intocável e tão frágil, ao mesmo tempo, que se me berrassem com força viraria um deserto de areia sob a qual era humanamente impossível deixar pegada.
Se alguma vez senti medo ou receio, disse em voz baixa “agora, não vale morrer”, como se o presente fosse o estandarte mais indicativo do meu verbo.
Foi para lá de Bagdad que senti o Poder do Agora, naquele império distante onde a crueldade afoga as meninas e eu…tão apaixonada…a pensar em cada trânsito, agora, não vale morrer.