ABRIGO DO MEZIO

 

| ONDE É |  Aldeia do Mezio, Vale Abrigoso, Viseu.

| O QUE É | Turismo de habitação “Abrigo do Mezio”; aldeia de xisto.

| CONTACTOS | Abrigo do Mezio: Reservas (a partir de duas noites) para info@abrigodomezio.com

| QUANTO É | 80 €/dia  (A casa inteira com 2 quartos, cozinha, sala e WC)

| O QUE LEVAR | Comida, botas para montanha e lenha ( já explico)

| O QUE COMER | Cabrito do Montemuro, arroz de salpicão, feijão com couves e carnes cozidas (Fumeiros), trutas de escabeche do Rio Paiva, e o famoso Bolo Podre.

| ONDE COMER | Restaurante do Mezio; Restaurante Encosta do Moinho ( Gralheira, Cinfães ); Café Eira da Fonte ( Cêtos, Castro Daire ), com reserva.

| ONDE FICAR | Abrigo do Mezio; Casas de Turismo Rural (Junto ao Rio Paiva); Quinta da Recochinha, a 50 m do Rio Paiva ( Parada de Ester, Castro Daire); Pouso da Serra ( Custilhão, Castro Daire); Casas de Montanha da Gralheira (Gralheira, Cinfães);

 

 

 

“Apetece prometer que vamos voltar, quando ainda estamos.”

 

 

Quando temos a sorte de ter uma semana inteira de desfrute, conjugamos o verbo em todas as suas formas e desfrutamos. Mesmo que isso implique palmilhar quilómetros, e fazer estrada como quem come poeira com prazer e sofreguidão.

Arrancámos de Lisboa, passamos 2 noites nas Luz Houses e, depois, fomos até Viseu, para lá de Viseu, para lá da serra, para uma aldeia deliciosa que nos devolveu o Natal.

E porque é que fomos parar ao Vale Abrigoso (que até uma página de facebook tem, o que, agora percebo, fosse eu nascida na zona, e já teria todo um Instagram)? Porque recebemos um email da Claúdia e do Nuno a desafiar-nos a visitar este cantinho, e nós, que somos curiosas e gostamos de queimar alcatrão, respondemos logo, marcámos 3 noites, e fizemo-nos à estradaFoi o melhor que fizemos. Temos um País tão pequeno, que vale qualquer corrida.

 

 

Jamais, mesmo na mais elaborada das pesquisas, eu descobriria que existe um  sítio chamado Abrigo do Mezio em Vale Abrigoso. Uma aldeia daquelas bem tradicionais, com as casas de granito a marcarem a traça.

O engenho dos habitantes é tal, que os levou a aproveitarem as laterais de penedos para construírem as suas casas. Parece cenário de filme, mas é tudo real.

 

 

Alugámos esta “casinha”, com uma varanda fabulosa para a capela de Vale Abrigoso, edificada em honra a Nossa Senhora da Apresentação de 1660 (séc. XVII). Ficámos situadas no melhor spot da aldeia (não julgo que aqui existam mais sítios onde ficar).

 

 

Uma aldeia onde não existe sequer um café; onde a rede wifi não chega a ser suficientemente forte para fazer download de uma série (o que até é um “surplus”, estamos entregues a nós e isso é do melhor que há).

Com o carro à mão, em menos de 2 kms, lá encontrámos  um café, para a Marta comprar pastilhas “Gorila” e para eu beber a bica da manhã.

Saciados os vícios individuais, voltemos à casa: notava-se estar ainda em “modo de estreia”, faltavam-lhe algumas peças-chave (como eletrodomésticos e mobília na sala de estar). Afinal de contas, estamos a falar de uma aldeia relativamente isolada, pelo que, é preciso garantir uma certa, senão uma total, auto-suficiência.

 

 

Quando a lenha do cesto terminou e liguei, ao proprietário a perguntar onde é que havia mais lenha, ao que ele me responde: “- Pode comprar mais no intermarché de Castro D´Aire.”. Escusado será dizer que a proposta era impensável, porque uma tonelada de lenha não custa assim tanto, e não são quatro miúdas que vão encher a mala do carro com troncos e paus, como quem compra cereais e pão. Nunca me tinha acontecido. E se, a isso, somarmos o facto de ter nevado no fim-de-semana, ainda mais se percebe a importância de manter o habitáculo quentinho.

 

 

Fora estes “à partes”, o sítio é um mimo: A sala e a cozinha são no piso superior, e, no piso de baixo, ficam a casa de banho  e os dois quartos (ambos com camas de casal, por isso, é ajustar a uma dupla e duas crianças pequenas, ou do mesmo sexo, ou desembaraçadas o suficiente para não se preocuparem com isso). 

Na aldeia, existem poucos habitantes, sobretudo mulheres, vestidas com as tradicionais capuchas. A primeira vez que a Camila as viu, chamou-me a correr e perguntou-me porque é que existiam tantos duendes neste sítio.

A capucha, feita de burel, é de fabrico caseiro, e é o traje típico para proteger do frio e levar a cabo os afazeres do pastoreio. A sua forma pontiaguda faz mesmo lembrar aqueles gnomos que vemos a decorar os jardins.

 

 

O melhor de estar no meio do nada, é estar no melhor de tudo. Aqui, tivemos a possibilidade de ver como vivem as senhoras mais velhas numa aldeia remota, com a mercearia a chegar de carrinha (e a fazer um chinfrim pelas ruas da aldeia, como se tivesse chegado o rei, a corte e o circo); e a de andar em cima das pedras gigantes de xisto, a ver o recolher do gado e o pôr-do-sol magnífico sobre a serra, o que ainda é  preferível a vê-lo no mar.

Os caminhos e riachos deliciosos fazem-nos acreditar que estamos dentro de uma pintura. Ao lado desta aldeia, há uma cordilheira de serra e outras aldeias por explorar, ainda intocáveis e de uma beleza arrasadora.

 

 

Esta paisagem é uma metáfora de tranquilidade. Logo no primeiro dia, madruguei. O gang ainda dormia quando decidi pegar na máquina e ir explorar a aldeia de pijama. Eram 7h30 da manhã, o nevoeiro subia pela serra, e as ruas estavam envoltas num bafo de nuvens com rasgos tímidos de sol. Não se via, nem ouvia vivalma, só o correr do riacho ao longe. Aos poucos, sentia-se o cheiro do fumo das lareiras que se iam acendendo. Estava de pijama, e não me apeteceu mudar de roupa, pois sabia ter vestida a indumentária mais honesta de quem ainda estava a sonhar.

 

 

Não sei quanto tempo durarão estas aldeias, nem por quanto tempo perdurarão as tradições que aqui aprendemos, mas é um privilégio raro e valioso, dar a meninas da cidade, a possibilidade de assistirem à forma mais pura de se estar, numa aldeia escondida na serra, deliciosamente pequena e verdadeira.

Aproveitem e vão, dêem aos vossos filhos um património vivo, enquanto ele vive, daqui a uns anos, se não contrariarmos o fenómeno do envelhecimento e da desertificação, só mesmo no museu étnico.

Para além da paisagem, há a paisagem humana, e a malta do Norte ganha, porque as pessoas são como as doses, é tudo à grande! Os nossos seguidores, que são os melhores anfitriões, enviaram-nos uma mensagem por instagram e convidaram-nos a ir almoçar com a família a Cetos, que apesar de não fazer a mais pequena ideia de onde ficava, disse imediatamente que “- Sim!”.

 

 

Mal imaginávamos nós que a Andreia tinha fechado a loja e preparado um digno repasto para o Gang. Não falo só de comida (que era de lamber os dedos e roer os ossos), mas mais do isso, a família do Toni e da Andreia foram uma família para nós: Levaram-nos a pastorar ovelhas, a descer ladeiras, a comer laranjas, a conhecer mosteiros e ermidas encantadas.

 

 

Quando já começávamos a achar que era tudo bom demais para ser verdade, começou a chover a cântaros. Acabámos em casa dos pais da Andreia com chinelos felpudos emprestados nos pés, a comer um lanche que fazia muita sombra à última ceia. (Obrigada Andreia e Toni, Tio Inocêncio e Tia Piedade, Tio Horácio e Tia Idália).

É por estas e por outras, que não vamos esquecer a vinda à Serra de Montemuro e vamos voltar: Na Primavera para ver tudo em flor e no Verão para mergulhar no rio.

Regressámos a casa com uma dose de saudades tão farta quanto as travessas que nos foram servidas à mesa, porque aquela generosidade genuína fica no coração.

 

 

 

| OBRIGATÓRIO PÔR O PÉ |

  •  Ir à zona alta da serra e percorrer os seus planaltos;
  •  Trilhos serranos; Trilho da Pombeira; Percurso das minas e muitos outros… (O Toni Leitão da https://www.instagram.com/visitmontemuro/ é a pessoa ideal para vos levar a explorar os trilhos mais bonitos da serra);
  •  Conhecer o Mosteiro da Ermida ( Finais do sec. XII ) Um cenário incrível, nem dá pata acreditar que existe um monumento assim.
  •  Visitar as Aldeias serranas: http://oscaminhosdejacinto.pt/programas/serra-de-montemuro-aldeias-tipicas-privado/
  •  Um dia com uma família da beira serra (de longe a melhor experiência que nos foi proporcionada)
  •  Entreguem-se ao Rio Paiva, ao seu vale e afluentes, que permitem experiências únicas a nível desportivo e de passeios. Com cascatas, pontes, moinhos e azenhas.

 

 

| DICAS |

http://oscaminhosdejacinto.pt/programas/serra-de-montemuro-aldeias-tipicas-privado/

1 Comment
  • Estivemos no Mezio depois de comer um arroz de salpicão e pensei: ” Caramba! Eu já ouvi falar disto!”. Mas como diz o meu namorado, tenho a mania de achar que já conheci toda a gente, que já ouvi falar de tudo…Mas afinal já tinha ouvido este nome algures…nas tuas estórias:)

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