PALACETE CHAFARIZ D’EL REY

 

“Tu tens rio eu tenho sede, tu tens ruas eu tenho passos, tu tens antiguidade e eu ainda tenho a juventude, tu nunca acabas e eu ainda sou toda começo.”

 

Quando vivia em Alfama lembro-me de ter escrito “Corro sérios riscos de me tornar uma daquelas velhinhas tendenciosas que só fala bem do bairro onde mora, que olha para os limites das suas ruas como a periferia do mundo e para tudo o que o cerca com um olhar desconfiado e hostil.”

A verdade é que foi neste bairro que fiz morada, depois de muitas moradas, fui aqui que me senti em casa e voltei a escrevê-lo num texto” A geografia do bairro ajusta-se a mim como uma lycra. E hoje, quando saí para te fotografar achei-te tão menina e moça, com esse jeito gingão de quem não se entrega ao desespero de eternizar a juventude e finta, na vida que recolhe nos outros, a forma mais nobre de envelhecer.

Fui feita para muitos mapas, entrego-me com fome ao redondo do globo mas no fundo, eu sei que é nas tuas esquinas que me amparo e no trote da tua calçada que ensaio o passo das minhas investidas. Foi aqui que casei, foi a morada onde me dividi, aqui fui mãe ainda miúda e regressei para me veres como me ensaio em ser mulher. Tu tens rio eu tenho sede, tu tens ruas eu tenho passos, tu tens antiguidade e eu ainda tenho a juventude, tu nunca acabas e eu ainda sou toda começo.”

Mas voltemos ao Palácio, até porque lá dentro está se tão bem, como dentro da melhor metáfora. Já conhecia o Rui, o proprietário, dos meus tempos de moradora em Alfama, era pelo túnel da Travessa São João da Praça que subia todos os dias. Não havia dia que não olhasse para o palecete, e houve um dia em que o Rui me convidou a entrar.

Sabem aquela sensação tipo Alice no País das Maravilhas? Foi parecido. Num bairro com cheiro a maresia, com becos escuros, ruas às avessas, prédios em ruínas, entrei num conto de fadas.

Percebi logo que não era palacete para os bolsos desta princesa, mas fiquei a sonhar com uma noite em que aquela morada fosse minha. Sabem como são os vizinhos com as galinhas. Sete anos depois de ter saído de Alfama, com uma mala cheia das melhores recordações, regressei à Grande e à “portuguesa”.

A convite do Rui ficamos instalados na suite Grand Torreão, que é a só uma das melhores suites da cidade de Lisboa. Parecia uma criança à solta numa loja de gomas, não sabia se me deitava na mega cama, se saltava com uma cerveja na mão para a primeira varanda, se subia ao primeiro piso para ver as estrelas ou se subia ainda mais alto e me estendia num cadeirão de sonho a namorar o rio.

Acho que fiz de tudo. Tiramos o dia para passear por Alfama e à noite curtimos o quarto, o fado e o rio. Durante a manhã e a tarde, eu e a Marta palmilhamos do rio ao Castelo, não houve esplanada, café ou terraço onde não tivéssemos metido o bedelho.

À noite a Marta rendeu ao Pedro a magia do torreão. Mandamos vir Sushi, trouxemos vinho branco e acabamos na Morgadinha de Alfama a ouvir fado ao lado da Dona Judite, mas isso são outras histórias dentro da história de um #atévelhinhos.

 

Imaginem só que em 1917 a Comissão de Estética da Câmara Municipal considerou este Palacete maravilhoso, como “Uma das notas de mais detestável mau gosto e de ofensa à estética de Lisboa.” E o felizes que ficamos por saber que não houve um “cromo letrado” que o mandou demolir e o quanto a cidade evoluiu e o quanto nós podemos desfrutar deste monumento.

Mandado construir pelos “brasileiros” João António e Augusto Vítor dos Santos em 1907, no local do antigo Palácio do Marquês de Angeja, (destruído pelo terramoto de 1755), sobre as estruturas do Chafariz d’El Rei, este palacete é um exemplar de arquitetura romântica revivalista, com elementos neo-árabes, neo-barrocos, neo-clássicos, vitrais e motivos arte nova. A partir de 1933, o edifício passou para a família de Armando Dias da Cruz, e em 1980, para Francisco da Cruz, que o arrendou.

Agora é o Rui quem toma conta deste pedaço. Não é para todos os bolsos, é verdade, mas posso garantir que vale a poupança para uma noite de sonho ou para uns dias de gozo absoluto. Se aterrasse em Lisboa, como turista, era daqui que gostava de partir à descoberta da cidade. Ninguém em apanhava numa cadeira hoteleira de 100 quartos, mesmo com toda a constelação de estrelas a atestar a qualidade. O Gang tem umas quantas crianças, mas este palacete é para se gozar na maioridade da vida. Se pagasse 400€ por noite não ia querer ouvir criança a correr nos corredores, talvez só a Alice, aquela que eu vi entrar aqui, quando achei que tinha entrado no País das Maravilhas.

 

 

Fizémos algumas perguntas ao Rui, o Director deste Palacete:

Porquê Alfama?
Acima de tudo o ambiente privado e acolhedor e o serviço personalizado.

De onde são a maioria dos vossos clientes?
A maioria dos clientes são Americanos, Alemães e Franceses.

Os portugueses alinham no palacete escondido no bairro histórico?
Os portugueses são muito curiosos e exploradores das ruas de Alfama e adoram descobrir um sitio como o Palacete, para tomar um café, para lanchar ou para o famoso Brunch.

O que é para ti o turista de sonho?
Adoro o desafio de receber turistas mal encarados e antipáticos porque não descanso enquanto não lhes sacar um sorriso. A verdade é que até hoje nunca falhei e saem sempre do hotel com um abraço e um sorriso.

Apenas acrescentar que o Salão de Chá já não está aberto ao publico, no entanto, com marcação prévia continuamos a servir o Brunch (€29,00/ Pax) a qualquer dia da semana.

 

 

6 Suites de sonho (Valores):
Suite Grand Torreão:
€580,00/ Noite
Suite Junior:
€380,00/ Noite
Suite Deluxe:
€420,00/ Noite
(PA Incluido na tarifa diária)

 

Obrigatório por o pé:

  • Na curva mais bonita de Lisboa: Subir a rua da Madalena e dar de caras com a Sé. Entrar na Sé e visitar os claustros. A maioria das pessoas fica-se pela nave central, mas as traseiras são igualmente monumentais.
  •  Fazer a Rua São João da Praça até ao Largo da Palmeira. Prepare-se para beber 3 cafés, nestes sopts deliciosos que Alfama passou a acolher: 1. Ao Pé da Sé. 2. Cruzes Credo e a Leitaria do Sr. Zé (no Largo São João da Praça).
  • Almoçar na Morgadinha de Alfama (Beco do Alfurja 2, 1100-120 Lisboa), Lautasco (Beco do Azinhal 7, 1100 Lisboa) e Jantar na Travessa do Fado (as melhores lulas recheadas).
  • Ir até à Esplanada das Portas do sol, sentar no sofá à patrão, beber um mojito e curtir o melhor pôr do sol de Lisboa (Largo das Portas do Sol, Beco de Santa Helena, 1100-411 Lisboa).