Outra Estrofe
Não é como se tivesse passado tempo é como se estivéssemos num outro, completamente diferente.
Em 4 anos surge uma pessoa nova, uma mulher crescida. Não consigo localizar a mudança no tempo, da mesma forma, que um dia quando deixei de amamentar sumiram-se me as maminhas.
Não dei pela mudança de pele, não senti o engrossar da voz, nem pressenti que se esganiçasse enquanto a roupa encolhia e os membros esticavam para lá dos limites legais.
O que é que queres minha filha, na minha arquitectura de romance foste sempre o consolo certo de uma estrofe pequenina.
Um azulejo de parede azul e branco cheio de sabedoria popular.
Ontem entraste-me pela sala e parecias muitas, um exército de palavras felizes.
Em voz de peito cheio, fizeste me um ditado que não consegui copiar. Já tens muitos ideias dentro de ti, um caos que alargou a estrofe, um corpo que se ergue como se sonhasse apenas com o infinito.
Não muito antes, medias o teu crescimento pela capacidade de me erguer do chão. Agora isso tem a ligeireza das certezas mais óbvias, sem que nunca tenhamos trocado de colo.
E eu sento-me no sofá como se fosse muito mais velha do que sou e percorro com os meus ouvidos as tuas palavras, com os meus olhos as tuas pernas e não te cubro.
E a noite acaba num poema.