Não me obriguem a ter Saudades

Não tenho saudades. Estamos óptimos, elas também. A Camila liga-me todos os dias por causa de uma encomenda que já devia ter chegado, bruta como as casas, desliga logo a seguir, e a Caetana está a voar no alto dos seus 16 anos, falamos muito de vez em quando, sobretudo para a fazer rir com as nossas experiências aqui. Está tudo fino mães . Há quem precise de duas chamadas em facetime por dia, há quem ainda conte a história do boa noite aos 15 anos e quem deixe a luz de presença acesa até aos 25. Quem entre em stress com a falta de legumes bio para a sopa dos meninos, e quem não desligue o telefone até sentir o desespero do amor e da saudade. E ainda há quem se afaste para oxigenar, mas passa o dia a lamber as memórias no telefone. Eu respeito, mais do que respeito, aceito todas as formas de gestão do amor e da saudade.
Mas eu não faço parte dessa equipa. E quero muito ter galinhas.
Ainda ninguém me convenceu que a presença permanente é uma garantia de maior amor. Nem que todo esse investimento emocional, voluntário ou involuntário, redunde na transformação de seres de maior solidez e humanismo. O que sei é o que sinto, que nunca me acusaram de ausência, e que nutrem por mim uma admiração grande por saberem que me desunho a aproveitar a viagem desta vida. E secretamente, eu espero, que um dia, se forem mães, se possam requisitar à maternidade sem culpa de quererem ser simultaneamente mulheres. E que sejam amadas da mesma forma que me sinto, cada vez que estou longe delas.