Eu também

Adoro fotografias de casais apaixonados em idades provectas.
Por esta altura tememos, muitos de nós, estarmos entregues à solidão e ao esquecimento, ou à lembrança avulso de ocasiões sazonais, em que a caridade se veste de atenção em nome do nascimento de Deus e por ocasião da celebração da nossa longevidade.
Por isso é que estas imagens nos dizem tanto. São quase um vislumbre utópico, numa vida de tantos dowloads sem sentido.
O amor é sempre a experiência que produz maior enchimento, a que sustenta a derrocada da alma e as vicissitudes da vida. Dois velhos apaixonados são o estandarte de uma sociedade esquecida, das paixões alienadas, dos casamentos desavindos, das promessas incumpridas de uma sucessão de amores.
Há naquelas rugas que se afagam uma conjugação de histórias, uma admiração pela jornada, o lustre da sobrevivência, a finta da solidão. Em cada beijo ternurento captado, a esperança que a paixão não descongela com o passar das idades e que as maturidades só assustam quem ainda não aprendeu que Ser-se custa.
Eu gostava, quem não?
Há nesta paridade, um álbum inteiro, mesmo que nunca tenham sido família.
Há duas entidades que se entregaram à escultura do tempo, que permitiram que a gravidade dobrasse apenas os ossos, permitindo à essência que se liberte e se afirme.
Há muita verdade, porque as cores da idade não mentem e a vida é um permanente desafio à intranquilidade do homem.
Aqui sabemos sempre que são dois.
Há neste blend enciclopédico, duas narrativas que sobressaem pela sua capacidade extraordinária de se fundirem.
Eu gostava, que daqui a 30 anos pudesse ser ipsis verbis a legenda desta fotografia.
Bom domingo meus velhos.