Esta viagem nunca mais acaba

Que delícia de comentário a uma fotografia nossa em Paris. No meu pequeno antigamente tinha algum pudor em colocar fotografias por duas semanas, agora tenho zero.

Um zero absoluto. Cresci, trabalhei, esfalfei-me a criar modos alternativos de rendimento que me possibilitassem acrescentar valor aos outros e a mim mesma.

Tornei-me empresária e acordei durante meses a suar fininho com os arranjos criativos que teria que fazer para pagar uma vida estável e educar duas filhas com as comodidades burguesas que os tempos obrigam.

As coisas melhoraram substancialmente quando foram as duas para o ensino público, libertando uma parcela considerável para o meu hedonismo, isento de culpas e responsabilidades.

Do outro lado, há sempre um progenitor/progenitora em fúria, que reclama o mesmo que reclamo da vida, também isso…aprendi a aligeirar.
Podia refrear, mas não vou fazê-lo, adiar todas as minhas caminhadas por um conforto de deck num cruzeiro daqui a 15 anos.

Compenso, concílio e estou atenta. Está tudo bem. Ainda melhor se eu estiver bem.

Os nossos sonhos não são todos feitos da mesma matéria. E não me venham com equidade, que não há verdade nisso onde não há ambição.

Eu preciso de mundo para me adubar. Preciso de tempo, para esticar as pernas e os pensamentos até sentir aquela culpa sã, do exagero com que me atiro à vida.

Não pretendo mudar, já passei dos quarenta. Sinto-me feliz, tenho dúvidas constantes em relação ao sentido da vida, assumidas nos solavancos com que hesito entre estar aqui ou abandonar.

Por mim esta viagem nunca acabava, da mesa forma que não punha termo às coisas boa da vida.

Irresponsabilidade? É ter a senha da vida na mão e passá-la a outros para a viverem por nós.

Vivo com pouco, mas nunca viverei sem a medula de que os sonhos são feitos.

Não há contabilidade justa que os assista.

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