Tenham Tomates

Quando leio as notícias de activistas ambientais a tentarem vandalizar obras de arte, tenho que me dominar para não desejar muito, que lhes enfiem na “obra menos prima” das suas existências uma lata de sopa enlatada, com peso suficiente para as deixar a dormir. E quem sabe, possibilitar o reset e a programação do sistema central neurológico, em modos mais operativos para uma humanidade, já de si tão desarranjada.

Faço ideia dos tomates que são precisos, e não são da campbell, para ser uma activista à séria, um jovem da resistência francesa, uma poeta subversiva no Maio de 68, uma adolescente no irão, uma estudante paquistanesa no regime talibã, uma camponesa destemida na guerra dos cem anos…mas isto aqui não.

Por muito caros e protegidos que estejam os enlatados, por muito carentes que as causas estejam de atenção e mediatismo, por muito que o planeta precise de um salvador, tem que haver um limite para o exercício espontâneo da estupidez humana.

“O que vale mais: a arte ou a vida? Vale mais do que comida? Mais do que justiça” Gritaram as activistas enquanto despejavam duas latas de tomate sobre os girassóis de Van Gogh.

Um pintor que vendeu apenas um quadro em vida. Que viveu em delírio e pobreza extrema e pintou a sua obra mais reconhecida “noite estrelada” num hospital psiquiátrico.

Atacar uma obra estática, presa a uma parede, é de uma covardia tão atroz, como preguiçosa é a luta e desonesto o jeito. Se é para ser simbólico que amputem a orelha direita e a ofereçam aos moucos, que assobiam para o lado às questões do mundo . Estamos cansados da desonestidade burguesa de uma juventude inflamada por falta de serventia ideológica e bravura.

Depois de sair do hospital, Van Gogh mudou-se para Auvers-sur-Oise, uma comuna francesa próxima de Paris. Lá, continuou perturbado por momentos de extrema solidão e depressão. No dia 27 de julho de 1890, disparou um tiro contra si mesmo e morreu dois dias depois, aos 37 anos.

Durante a sua curta vida pintou 700 obras.

“Quando um cego grita para outro cego, os dois tropeçam na mesma pedra.”
Van Gogh

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