Um Brinde
A mim…
…que li num desses artigos de porcaria, enquanto fazes scroll das notícias do dia, que o meu signo do zodíaco – Balança – era um dos menos propenso ao convívio demorado com crianças, que por questões de equilíbrio e harmonia estética, aliados ao meu planeta regente, faziam perigar o mais polido dos lares.
Ainda acrescentava, que embora acolhesse com carinho e imaginação, rapidamente evaporava em impaciência.
Confirmo. Sou insuportável no que toca ao convívio prolongado com menores de 16. Sinto que por mim já estava bom, que até aos 6 anos da mais nova, gastei todas as moedas no casino da maternidade.
Saí de lá sem jokers no bolso, com a cara imprensa num panfleto para efeitos de controle e segurança, banida do perímetro de qualquer recreio.
Fã incondicional do mundo viciado dos adultos, feliz pelo consolidar dos meus interesses, sedenta de silêncio e Conhecimento, senhora das minhas fantasias, dona das minhas finanças e madame suprema dos meus vícios.
Longe do peixe sem espinhas, do pêssego aos quadradinhos e sem qualquer necessidade de sopa, que não seja aquela que eu despejo por cima dos programas que eu não quero ter.
Mas como não desisto de mim, e enquanto por aqui se demoram, a ensaiar a maioridade, eu vou limando as excentricidades do meu carácter com a lima grossa das minhas limitações.
Impondo-me uma espécie de mindfulness que me atira sobretudo para os tachos, para deixar repousar sereno o machado da minha raiva.
E saio-me tão bem, que às vezes confirmo que enquanto se cozinha uma mãe se cozinham tantas coisas boas. E nessa simultaneidade que é meio desastrosa em mim, apuram-se tantos paladares, que só posso render-me a evidência que da minha impaciência nascem novas energias.
Se não fosse divorciada por esta altura era chefe de cozinha.