Todos culpados

Estava a ler as notícias hoje de manhã e fiquei a pensar na condenação do Will Smith, a proibição de fazer parte da cerimónia dos óscares nos próximos 10 anos.

E sem ter qualquer opinião formada em relação à matéria da vingança emocional e dos limites de humor, cometi o desleixado erro de ir ler os comentários.

A natureza humana morre no impulso.

É triste como nos consolamos com o castigo dos outros.
Ando numa luta diária para fazer as pazes com a humanidade, e depois abandalhamos tudo na conversão de uma vírgula a Exclamação!
Parece ser verdade, que quando se trata do juízo dos outros, devemos mais a Deus que ao Diabo.
Adoramos uma boa história isolada para fazer a expiação da moral colectiva.
No fundo, todos queriam dar o estalo e dizer a piada.
Mas no mal apreendido conceito da liberdade, o que sobra para os outros é um reflexo moral das nossas contenções e cada vez menos espaço de manobra para a diferença.
Assim, sem mais nem ais, se sonda o escândalo da manada, se pressente o fervor da multidão e se decide chamar o carrasco.
Ficamos com a falsa sensação que isolamos a bactéria e prosseguimos a jornada à espera do próximo soldadinho a cair no buraco.
A questão parece-me a mim, é que o solo está minado, chamamos-lhe campo de golfe, para parecer mais contemporâneo, mas é um planalto escavado pelos nossos próprios vazios.
Amanhã é o Manuel que chamou Joana ao João, o preto que queria ser beje, o branco cansado dos amarelos, o clitoris a pedir autonomia, o assédio das plantas regadas, o cântico dos animais mudos, os bons e os maus e um mundo à escuras a tactear nos cinzentos.
Escolham o vosso buraco.