Mesmo quando durmo pouco, invisto todo o meu potencial energético matinal a ser uma boa mãe.
Tento que o meu olhar macerado, da falta de sono, e o meu corpo dorido não comprometam o humor com que enfrentamos as manhãs. Berro mais ao final do dia quando as pilhas começam a piscar vermelho.
Gosto de cuidar das nossas manhãs.
O arranque das coisas determina a nossa predisposição para agarrar o dia.
No carro substituímos muitas vezes as Playlist´s contaminadas do Disney channel por diálogos.
É bom desligar o rádio e entrar a fundo naquele esquema de perguntas, respostas e interjeições. Quando me comovo com a espontaneidade do que dizem, estico a mão para trás e tento agarrar-lhes os dedos com força.
O último diálogo custou-me uma batida de carro, daquelas à naba, daquelas à mãe, esticada sobre o banco de trás, alçando o pézinho do travão e bum no carro da frente!
Estava a dar aquela música do Hozier na rádio, “take me to church”, a Caetana perguntou-me se o cantor era giro.
Não fazia “puto” ideia como é que ele era e decidi pegar no telemóvel e googlar.
Estávamos numa fila parada a avaliar as qualidades físicas do rapaz, para a Camila “tinha cabelo de miúda e muita barba”, para a Caetana “tinha um olhar verde e profundo” e para a mãe um “pára-choques”.
Mas está-se bem. O nosso carro anda, o senhor do carro da frente era um porreiro, as loiras silenciaram-se repentinamente (o que é sempre bom) e eu saí do carro a dizer: “Bom dia e a pedir desculpas”. Correu tudo bem!
Corre sempre tudo bem quando transportamos boa energia.
A corrente mais difícil de quebrar:)