Safar

Não é um tema muito dominical, mas são as coisas que me vêm à cabeça, e que tenho que partilhar num ápice, sob pena de as perder. Como a madrugada faz com os sonhos bons.
Eu gosto que as pessoas se safem, mesmo nos filmes, confesso, tenho sempre uma secreta esperança que todos se safem, os bons e os maus. Se calhar até mais os vilões, porque nas narrativas cinematográficas parecem nascer sentenciados.
“Safar” pressupõe esforço, uma academia criativa, uma estratégia de “safanço”.
Não são muitos os que se safam.
Mas quem se anda mesmo a safar à grande, são os nossos adolescentes, que adoptaram o verbo de forma proverbial, chutaram para canto, a desusada expressão “curtir” e
fazem…fazem o que têm a fazer, na forma mais contemporânea da sua sociabilização.
Eu quero que as minhas filhas se safem, no espectro mais holístico da expressão. Também gostava, mas já mando muito pouco nas tendências do meu habitáculo, que fossem safando, sem ser excessivamente safadas. Não prevejo limitações morais à expressão honesta do amor.
É importante ir safando aqui e ali. Como mãe, não me interessa ser moderna, nem pseudo liberal, preocupa-me que haja um convívio harmonioso entre uma espinha dorsal direita, um coração honesto e uma boa imaginação. De resto, sou apenas a providenciadora de um estado de liberdade vigilante, onde o verbo “safar” se expande e encolhe. E quando ninguém se safa como quer, acolhe. E no futuro do presente, de modo indicativo, “safar-se-ão”.