Os putos, os putos.

Tenho uma amiga, que tem uma amiga que tem um filho real.

Leram bem, não são mães reais cheias de olheiras e celulite e sem tempo de esticar o tapete de yoga, são filhos reais, que é coisa que parece estar sempre em extinção a avaliar pelo feed das redes sociais.
São como o lince ibérico mas parcialmente amestrado e a viver em nossas casas.

E o que é que tem a minha filha, corrijo, o filho desta amiga da minha amiga, que o torna tão ou tão pouco especial?

É um puto aborrecido, sem grande encantamento pela vida exterior e sem grande vontade de estudar. Gosta essencialmente de dormir.

Como aquelas personagens do antigamente, da nossa adolescência. Havemos de ler sobre eles nas escrituras.
Maus alunos, preguiçosos e rezingões, quase sempre em risco de chumbar, seres semi vegetativos. São precisas duas vigorosas para os catapultar para qualquer coisa. Desarrumados, sonolentas e respondões (malcriadas/os mesmo) quando interpelados em estados semi comatosos, normalmente à porta do frigorífico.
Mas vocês não devem saber do que é que estou a falar.
Exemplares que por injustiça da distribuição da vida habitam muitos poucos lares.
Seres pouco lavados, que até parecem ser dotados de um coração bondoso, e que de quando em quando te fazem acreditar, mas que na maioria das vezes, apenas te fazem questionar sobre a boa utilização do útero materno e a incubação de outros parasitas.
Essa minha amiga fica muito preocupada, pq pensa que é a única, porque aquilo que lê aqui e acolá é uma serpentina de adjectivos humanos sobre a forma de filhos e filhas, coroadas nos mais diversos quadros de honra e sinalizados para canonização.
Digo lhe que não se preocupe que a ver pelo mundo, quase ninguém vê muito bem. Uma espécie de miopia emocional para efeitos de parentalidade positiva. Eu cá não tenho disso cá em casa…é só loiras perfeitas com quartos imaculados sempre a perguntar me se preciso de dinheiro emprestado enquanto engomam as minhas calças e me dão a provar o molho de tomate com a colher de pau. Chumbamos todos meus amores, uns na pauta outra na vida e passamos todos também. Olhem a vossa volta adultos, os putos? Os putos?

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