Muita uva para o meu camião

Gosto das gentes do vinho, da malta das comezainas, dos afiliados dos petiscos, dos campeões das tascas, dos rendidos à comida de forno, dos saloios que nos ensinam a comer, das pessoas que nos abrem a porta das adegas e do coração, que nos convidam para casa, que nos enchem a pança de histórias e farinheiras.

Gosto dessa gente que se banqueteia, que coloca o ovo mexido na fatia de pão fresco, que serve no copo quando não há prato, que se delicia a lamber os dedos e as colheres de pau. Gosto de fumeiro, de fumados, de licores e preparados, de caldos e composições e das dietas que ficam para depois.

Gosto de meter a mão no composto, de podar a vinha, de calcar carbono e saber que há gente que cuida da terra como um filho agradecido que não larga a mão da mãe.
Que retiram e dão de volta, que tratam o todo, com o pouco imenso que dão, que perceberam muito antes de chegarem os doutores que é a natureza que nos nutre e é a ela, que devemos toda a gratidão.

Gosto das gentes das carnes e dos legumes, dos azeites, das poedeiras e dos alguidares. Gosto de gente que atravessa a estrada para colher coentros, e ovos frescos, que não tem medo de falar adjectivando e desafinar cantando.

Gosto do que o Oeste me trouxe ontem, e do que a vida me dá hoje para digestão.

Gosto das manas sem nome, num colectivo de mafia e amor.
Gosto dos bolbos que escondem florestas.
Gosto de adorar fazer parte disso e ter tanta pena de partir.

Gosto de ser família em casas longe de casa e a noção de ter dado ao tempo o melhor dos predicados.

Obrigada por nutrirem o meu coração saloio.

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