Meu amor velhinho

Por este andarilho, já fugimos da cidade faz tempo.
Já cumpristes a tua promessa de me fazer um alpendre bonito, para ver o mar de perto, sem encher de gotas de água o meu copo de vinho.

Por este andarilho, já saberás de cor as passagens do livro, que repeti mil vezes ao teu ouvido.

Também já temos o fogo de chão, e se não temos o fogo de colchão é porque aprendemos, por este andarilho, que no aconchego dos pés se faz muito Amor.

Por este andarilho já nem reparamos que a música é a mesma porque na aproximação ao fim, tudo é novo outra vez.

Por este andarilho, quando me chamares chata eu converto de imediato em maresia e quando te queixares de dores, eu faço-as minhas. Porque tudo o que me dói me lembra pulsação e vida.

Meu amor velhinho, por este andarilho, andaremos nós, entre os sonhos do alpendre, as fintas dos outros e os cálices da vida.

E se por qualquer razão chegares primeiro ao sítio onde nos esperam, abre o tinto, meu amor.

Por este andarilho, já sabes, que corro mais rápido com a língua, do que com os pés, e que as melhores coisas da vida precisam de tempo para respirar.

Por este andarilho.