Ide ser à vossa maneira

Entrei na fase Ghandi. Cá em casa sou a pacifista ideológica e determinada.

Combato com palavras, não uso esdrúxulas, nem faço uso de esforço físico.

Tornei-me pela força das circunstâncias, uma especialista em ética caseira (tenho os meus oponentes), mas lidero a maior resistência não violenta na liderança do meu lar.

Acabaram-se os falos gigantes, para onde mandava toda a gente, quando a gente não compreende “a gente”.

Estou do lado da barricada dos que levitam, dos que não se quebram no murmurinho, que não cedem à apneia do insulto, sou o lençol imaculado da não agressão, a resistente mais transcendente à evocação da maldade.

Ide ser adolescentes à vossa maneira exerçam o vosso egoísmo, apelem à colonização das vossas vontades.

Eu fico-me pela postura, sentadinha à chinês.

Darei o meu apoio justo a lutas que contenham: jejuns, meditações e greves silenciosas.

A minha retórica bélica dreno-a aqui. Entre os pares, que sentem nas minhas dores ímpares o avançar do vosso ímpeto materialista. Tenho o meu mahatma bem polido.

Se morrer às vossas mãos chamem-me “mãe”, só se quiserem, e atirem-me ao tejo se tiverem vontade.

Já dizia o meu profeta: olho por olho e o mundo acaba cego.

Eu acrescento: De Ghandi em Ghandi nunca ninguém ficou pequeno.

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