“Falhei na capacidade de fazer coisas extraordinárias.”

Sou caçadora de frases avulso. Esta, cacei numa entrevista ao Daniel Oliveira no podcast a Beleza das pequenas coisas.
Uma frase que acolho de forma quase visceral, desde que em pequena, me pus a pensar que tendo a sorte de estar viva, dever-lhe ia somar alguma excepcionalidade no viver.

No outro dia, num almoço de trabalho, partilhei esta frase com um empresário bem sucedido, que em jeito de shark tank me respondeu sem avenidas e entre linhas “há muito que me deixei disso, quero ser apenas normal, proporcionar um vida boa aos meus filhos, viajar e não me preocupar constantemente, nem com as condições do meu bolso, nem com as obsessões do meu mundo.” E rematou com um prodigioso e honesto “quero é fazer dinheiro”.

Eu fiquei a sentir-me como uma miúda ingénua, que se agarra feliz à mensagem trapaceira do bolinho chinês.

Tudo o que nele se sucumbia de magia, se ofuscava em segurança.

Fiquei com uma certa inveja, de não ter a mesma capacidade de abraçar esse espírito determinista, decapado de um preceito existencial que passa muito lustro à vida, o romantismo.

E fiquei com uma certa impressão que ele não gastaria um euro na máquina dos sonhos, se os pudesse trocar por ações tangíveis de realidade.

Não me faz nenhuma confusão, desejar-se a riqueza materializada, fazem-se muitas coisas extraordinárias no caminho. Também já cresci que chegue, para não advogar a diletância totalitária e preguiçosa do romantismo.

O que me faz pena é que haja pessoas dispostas a converter uma parte da alma num cemitério de sonhos, abertas à falência da sua capacidade, de fazer coisas extraordinárias, só porque se tornaram extremamente funcionais a viver e esquecidos do extraordinário que isso pode ser.

Escapar ao “ordinário” não é mais do que tentar fintar a vulgaridade estéril de uma vida mundana, alimentando-a, não do desejo ambicioso de ser diferente ou reconhecido, mas de fazer a diferença.

Desejarei sempre muito, a mim mesma e aos que amo, que nunca lhes falte a oportunidade e a capacidade de fazerem coisas extraordinárias.

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