ATÉ VELHINHOS ou até estarmos todos fodi*os

Porra. Não estamos nada preparados para a velhice. Andamos sempre a ler o livro ao contrário, na esperança de fintar o capítulo das dores.

Vejo estes filmes (o Vortex do Gaspar Noé )e penso que devia ser implantado um chip de consciência, que aos 20 nos fizesse antever, o desamparo dos “muitos setenta”.
Trataríamos a jornada com muito mais carinho.

É o fim e a velhice e ninguém quer falar disso.

O discurso embaciado, as pernas desobedientes, os dedos curvos, as olheiras em cachos a competirem na corrida pelo nariz, o cabelo ralo como a motivação, os ossos feitos papel de cartão, as rachas que não vão lá com pladour.

E as mãos, as mãos que nunca mais nos tocam, um corpo que só sente o calor das roupas e mesmo assim, está sempre com frio.

A confusão labiríntica das nossas moradas, os amigos que sumiram, como as casas com quintais e as flores nos parapeitos do adeus.
E os filhos da puta dos olhos que nos faltam, até para as coisas que não queremos ver e as falanges dos dedos a derreterem ao comprido sobre as teclas, para lembrar o número dos filhos que pouca vezes recordam os nomes de suas mães.

E essa solidão de tudo como um refrão de despedida, a par do medo constante, que nos enfiem num lar, e a ironia de lhe darem o nome de casa.

E quem disse que os velhos querem ficar entre velhos? Como livros esquecidos que ninguém lê, clássicos de fachada, empilhados em prateleiras.

Gozemos o Vortex do agora, porque a não ser que a morte nos finte com a pele lisa, a estrada que nos espera tem lombas de rugas ásperas.

E lar é prefixo de largar. Eu se fosse a vocês, dava mais um mergulho mar, porque mesmo com o livro parado, a vida continua a andar.

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